sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

"O feminismo é a ponta de diamante de uma insurgência internacional". Entrevista com Silvia Federici

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Enquanto pelo mundo se organiza a quarta greve feminista em centenas de reuniões, atividades e assembleias, ouvir Silvia Federici é inspirador. Em um intervalo de sua caminhada pelo mundo compartilhando leituras e contagiando força, Silvia nos recebeu em sua casa, em Nova York, para conversar sobre a atualidade das lutas feministas, as revoltas populares dos últimos meses, as tensões do feminismo com a esquerda e os pontos mais relevantes de seu último livro.
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Resultado de imagem para Uma falha do pensamento feminista é acreditar que a violência de gênero é um problema de homens e mulheres

Rita Segato é doutora em Antropologia e pesquisadora. Provavelmente, é uma das pensadoras feministas mais lúcidas deste tempo. E talvez de todos os tempos. Escreveu inúmeros trabalhos a partir de sua investigação com estupradores na penitenciária de Brasília, como perito antropológica e de gênero no histórico julgamento da Guatemala em que se julgou e condenou pela primeira vez membros do Exército pelos delitos de escravidão sexual e doméstica contra mulheres maias da etnia g’egchi, e foi convocada a Ciudad Juárez, no México, para expor sua interpretação em torno das centenas de feminicídios perpetrados no local. Seu longo currículo é impressionante. Mais além de todo preconceito escandalizador, Segato propôs um olhar profundo sobre a violência letal sobre as mulheres, entendendo os feminicídios como uma problemática que transcende os gênero para se tornar em um sintoma, ou melhor dizendo, em uma expressão de uma sociedade que necessita de uma “pedagogia da crueldade” para destruir e anular a compaixão, a empatia, os vínculos e o enraizamento local e comunitário. Ou seja, todos esses elementos que se tornam em obstáculo em um capitalismo “de rapina”, que depende dessa pedagogia da crueldade para instruir. É, nesse sentido, o exercício da crueldade sobre o corpo das mulheres, porém que também se estende a crimes homofóbicos ou transfóbicos, todas essas violências “não são outra coisa que o disciplinamento que as forças patriarcais impõem a todos que moramos à margem da política, de crimes do patriarcado colonial moderno de alta intensidade, contra tudo o que desestabiliza”. Nesses corpos escreve-se a mensagem doutrinadora que esse capitalismo patriarcal de alta intensidade necessita impor à sociedade. Não é tarefa simples entrevistar Rita, que é uma espécie de redemoinho, capaz de amarrar com extrema clareza e sutileza os argumentos mais complexos. Se toma seu tempo para responder, analisa cada pergunta, a esmiúça, aprofunda e dá uma virada sobre cada conceito. Tem seu próprio ritmo e segui-lo pode ser um desafio.
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