terça-feira, 5 de setembro de 2017

"Declaração" - Encandescente

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Declaração


Atirei pela janela um caderno quase completo,
Quatro canetas e dois livros de poesia.
Ambos meus,
Ambos desnecessários,
Ambos contrários.
Ambos inúteis porque palavras,
Ambos inúteis porque não vida.
Claro que senti cada poema que escrevi!
Nalguns a emoção foi tanta que a palavra era líquida
E não sei se os escrevi ou se os chorei.
Noutros as palavras queimavam-me o corpo e a paixão era tamanha
Que ao sentir paixão amava
E ao escrever amor amei.
Amei palavras…
Concordo com o Pessoa, “todas as cartas de amor são ridículas”
Vou mais longe que o Pessoa e afirmo:
- Toda a poesia é ridícula!
E eu que escrevi tanta, solenemente me declaro:
Ridiculamente, ridícula!
Ridícula
Por todas as palavras que escrevendo, chorei.
Ridícula
Por todas as palavras que amando, amei.
Ridícula
Por todas as palavras que escrevi,
Que sonhei,
Que senti…
E por todas as outras que escreverei ainda
Amaldiçoo fado, destino e sorte,
E a mim …
A esta ânsia
Esta fome
Esta sede
Este querer
Esta forma escrita de viver
Este ser tudo dentro
E fora de mim nada ser.

Encandescente

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