segunda-feira, 1 de abril de 2013

Via Crucis, Maria - Barbara Furtuna & L'Arpeggiata

Christina Pluhar e seu conjunto revelam considerável criatividade musical que, mantendo-se fiel ao espírito de seu tempo, encanta os ouvintes. Além das apresentações com requintadas peças instrumentais, barrocas, e com solos e duetos cantados pelos sopranos Philippe Jaroussky e Núria Rial, incluem-se músicas que fazem parte de uma tradição popular que remonta há centenas de anos. O que todos os espetáculos têm em comum são a musicalidade impecável, a aguda inteligência, a sensibilidade na realização das composições, uma espontaneidade irreprimível e uma enorme vitalidade. O som é limpo e emocionante.
Via Crucis é um projeto que procura reunir canções barrocas, canções tradicionais, jogos de mistério, que foram desenvolvidos no século 17 e, sob várias formas, ainda estão vivos na Europa. É uma temática muito difícil de trabalhar, porque existe um vasto e maravilhoso repertório sobre este tema. Levou um longo tempo para se alcançar a seleção final. Demorou cerca de cinco anos para gravar o CD, e para pensar e repensar e, finalmente, criar a Via Crucis. O toque especial da Via Crucis é a colaboração com o Conjunto Vocal Barbara Furtuna, esses cantores fantásticas da Córsega. Eles têm um jeito maravilhoso de cantar, que é extremamente arcaico. Eles fazem lembrar aqueles grupos de cantores que se podem ver nas esculturas da Idade Média. Nessas primeiras pinturas ou esculturas medievais constata-se que os cantores tinham um contato físico muito próximo. Eles respiravam juntos e se encaravam. É como se formassem um único corpo.
Com o Conjunto Barbara Furtuna, parece que eles surgem de uma dessas obras de arte medievais. Têm uma linguagem corporal maravilhosa, soletram e respiram juntos. As ornamentações que usam são um caldeirão de inúmeras culturas. É absolutamente incrível. É mais um exemplo de uma espécie de cultura muito antiga que poderia ser situada no século 11. Pode-se compará-los com os cânticos polifônicos dessa época. É o que fazem agora. É fascinante trabalhar com esses artistas, pois pode-se aprender muito sobre a intensidade e o trabalho coletivo. São pessoas incríveis e artistas maravilhosos. Sentimo-nos pequenos quando estamos perto deles e os ouvimos cantar. É uma experiência fortíssima.
A peça de mistério [em que a Via Crucis é baseada] é uma espécie de ópera - a ópera sagrada, que é apresentada durante a Semana Santa. É algo muito antigo. As primeiras descrições de peças dos mistérios medievais encontram-se no século 11, e muitas delas, nos séculos 16 e 17. No século 17, a ópera era encenada e realizada no interior da igreja ou na sua parte externa com atores, dançarinos e máquinas como nas óperas contemporâneas. Por exemplo, aparecem anjos voando ou cenas do inferno ou paisagens muito barrocas para contar todos os aspectos da Paixão de Cristo. Mas também incluem outras histórias que contam, desde a criação do mundo até o fim do mundo. Tudo isso feito de uma forma muito teatral.
É uma tradição muito arcaica que ainda hoje está viva em diferentes formas em muitas partes da Europa. Por exemplo, na Espanha, no decorrer das procissões, entoam-se os cantos, utilizam-se tambores e realizam-se diferentes representações. Existem diferentes tradições na Córsega, Sardenha, Sicília e no sul da Itália. Existem ainda algumas tradições também na Bulgária. Em todos os países do Sul da Europa, diferente representações com traços de mistério continuam ocorrendo.
Podem ouvi-los em Via Crucis clicando aqui

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