segunda-feira, 18 de setembro de 2023

"Nami procura em horizontes" - Agnès Agboton




Nami procura em horizontes




I


Nami procura em horizontes


que se fecham.


Nami constrói caminhos


que não principiam.


Nami estendendo as mãos


que tropeçam


com o cristal de uns olhos


sem tristeza.


— E ri,


algumas vezes,


a uma lua


de papéis —.


II


Riso triste:


Nami não é Nami


que tem o rosto grávido


de todas as injustiças,


de todos os olvidados.


Ai de quem não tema o parto!



 

Grito contido:


Nami volta a ser Nami.


Tem os olhos vazios,


pois secaram o seu olhar


tantos corações frios.


Ai de quem nunca sofreu!


 

III


Sexos desnudos


que Nami


(não sendo Nami)


volta a ser Nami.


— E ri,


algumas vezes,


a uma lua


de papéis —.



 

Sexos atordoados.


O seu corpo cálido


povoa, noite após noite,


o vazio de uns braços.



 

Sexos despertos.


Chegam


todos os horrores,


semeiam o leito.


— E quebram,


algumas vezes,


a lua triste


de papéis —.


 

IV


Sexos desnudos,


sexos despertos,


sexos atordoados


e uma vida que se leva,


sem a realizar,


entre as mãos.



 

Riso triste,


grito contido.


Ai de quem não tema o parto!



 

Agnès Agboton


(Benim, 1960 - ) 

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