"Esquinas" - Agnès Agboton
Esquinas
I
Esquinas mijadas pelos cães
assassinam o nosso sangue;
sobem sórdidos fedores
— enchem a tarde —
E essa tristeza impotente
de cemitério; este silêncio
que canta hinos de morte;
estas palavras inúteis
agarram-se à garganta,
embotam o brilho dos olhos,
colocam freios às mãos.
— Ai, o nosso sangue
cada dia
menos sangue! —
II
O cinzento pó das ruas
assassina o nosso sangue
e eu escuto o seu frio latir
à margem da tarde.
Pesa-me o ar submisso
daquele cavalo castrado,
doem os olhos vencidos,
aqueles braços escravos
que de repente serão os meus,
queimam as mortas figuras
de gritos crucificados.
— Ai o nosso sangue,
marido,
ai o nosso sangue! —
Agnès Agboton
(Benim, 1960 - )
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