domingo, 6 de agosto de 2023

José de Sousa Miguel Lopes - Prefácio do Livro de poesia "Palavrador" de Christian Coelho

 

Christian Coelho e o autor do blog e do Prefácio

Leia o site da Editora Atafona aqui


Christian Coelho, autor do livro de poemas “Palavrador”, em conversa sobre o seu livro com o autor do prefácio, o professor José de Sousa Miguel Lopes. Participaram também desse encontro as narradoras de histórias Aguida Alves (do grupo Arautos da Poesia), Bárbara Amaral e o músico Paul Bersey.



A fala do autor do Prefácio ocorre a partir do minuto 23:11 até ao minuto 41:33 e da 1:12:21 até 1:13:02. Para assistir à Conversa sobre o livro Palavrador" de Christian Coelho clique no vídeo aqui



Prefácio


José de Sousa Miguel Lopes[1]

 


O espaço da poesia sempre foi encontrado nos interstícios, nas fendas do muro, em contracorrente. Tudo depende, afinal, do que se entende por poesia. Se poesia constituir uma visão alternativa do mundo, e não apenas uma forma de arte, então ela terá poderes para enfrentar este mundo. Às vezes, tudo o que resta é a palavra.



Mia Couto (13/05/2020)

 


A epígrafe de Mia Couto insinua que estaremos vivendo um tempo nervoso, um tempo de enfrentamento. É, certamente, um tempo de emoções e paixões, em particular discussões, ódios, iras e tempestades diversas.


Christian Coelho convida-me para uma tarefa desafiadora: escrever um Prefácio em tempos de pandemia num momento em que, em todo o planeta, todos estão despertos por um dos medos mais primitivos do ser humano: o medo da morte A falta de controle sobre a vida e sobre o futuro, somada ao isolamento que impede de estarmos próximos fisicamente das pessoas com quem dividimos nossos temores e alegrias, tem profundas consequências em nossas vidas, se manifestando também nos sonhos.


Porém, não são apenas os sonhos e pesadelos que comunicam. O não sonhar também tem um significado. Diante das crises geradas pela pandemia, a ansiedade generalizada e a insônia atingem cada vez mais pessoas. À medida que o estresse e as preocupações aumentam, crescem os níveis de cortisol no sangue e deitar a cabeça no travesseiro para ter uma noite de sono torna-se um verdadeiro pesadelo.


Mas talvez por todo este quadro tão sombrio, se faz mais necessário que nunca celebrarmos a vida, a beleza, a arte. Por isso aceitei o desafio do Christian Coelho.


Parece que o fazer poético está, a cada dia, perdendo terreno, numa luta implacável para que os valores mais sublimes do ser humano não sucumbam neste turbilhão. Neste quadro, podemos interrogar-nos: qual é o lugar da poesia e, mais ainda, qual o lugar do poeta neste presente que só se justifica pelo quanto sejamos capazes de realizar para dele nos afastarmos, ou seja, pelo quanto de utopia sejamos capazes de cultivar – contra o que somos?


É preciso fertilizar a agrura do concreto, colorir a brancura das paredes lisas, romper a imobilidade asséptica dos dias com alguma dose de beleza, de delicadeza, de poesia. É preciso que a poesia não deixe de ser nunca, ainda que só por um instante, a eterna dançarina do efêmero. Faz-se necessária alguma poesia no tempo em que vivemos porque a poesia, por definição, altera o mundo com a direção subjetiva do olhar, contrariando assim toda a clareza ilusória, toda a objetividade falsa dos argumentos. A poesia refunda a complexidade do mundo turvando-o com a mais pessoal das lentes. E, sejamos sinceros, como olhar sem nenhuma lente este mundo em ruínas que a cada manhã nos desperta? Como não fugir, diante dessa vista horrenda, a algum lugar íntimo, como não tentar olhar a vista com a lente das lágrimas ou a lente da beleza?


Como toda a arte, a poesia nos traz a possibilidade de sonharmos e imaginarmos algo radicalmente novo, fora de nosso planejamento racional e daquilo que já existe em nosso mundo. Terreno fértil para o onírico, a poesia tem uma relação próxima com esse mundo: são muitas as grandes obras que saíram de sonhos ou pesadelos, assim como há os textos que parecem nos possibilitar acessar o inconsciente de determinada época.


E o que acontece com os sonhos quando um inimigo invisível nos priva da liberdade de ir e vir? Como nossa experiência de sonhar se manifesta quando não é possível saber em que momento tudo voltará a ser como antes? E desejamos mesmo que tudo volte a ser como antes? Estaríamos satisfeitos com o “normal” que era a existência antes do surgimento deste “inimigo” que a todos amedronta? Ou sonharemos para que uma nova realidade mais humanizada se instaure? Isto nos exige realizar um trabalho pioneiro sobre o onírico em tempos extremos que nos possa auxiliar a compreender como os sonhos de uma sociedade se manifestam e compõem o imaginário de uma época.


Por outro lado, queremos que nos leiam, nos ouçam. Porém, temos dificuldades de parar para ouvir. Quantas vezes impedimos o diálogo: na ânsia de falar não escutamos. Temos muitas desculpas para não ouvir o outro e temos muita vontade de falar. Queremos ser ouvidos, mas não queremos ouvir. Escutar, ouvir é mais difícil. Para ouvir, temos que ficar em silêncio, temos que prestar atenção, temos que esquecer nossos pensamentos e deixar que a ideia e a voz do outro, que nos fala, entre em nós. Temos que reconhecer que o outro existe e que tem algo de novo para nos dizer. E, ouvindo de verdade o outro, podemos pensar, trocar ideias e aprender e criar novas realidades, juntos.


O rumor de nossas palavras só tem sentido porque nelas se reflete o mundo infinito que está para lá de sua sonoridade, o mundo dos sentimentos, das ideias e das grandes realidades, um mundo que possa entender melhor o silêncio. Silêncio e palavra: dois instrumentos que se completam reciprocamente. Existe um silêncio que se pode chamar expressivo e uma palavra silenciosa, ou melhor, um silêncio que fala, capaz de dizer qualquer coisa e uma palavra muda, que diz nada a quem a escuta.


É nesta linha que o fazer poético de Christian Coelho se enquadra. “Palavrador” busca, a cada poema, a cada palavra, a mudez expressiva que muito tem a dizer a quem a escuta.


Assim, os poemas que Christian Coelho nos apresenta neste livro nos ajudam a pensar o presente para sonhar com o futuro: vivemos tempos difíceis, de incertezas e fragilidades, mas não podemos esquecer que o passado também apresentou grandes desafios que foram superados pela humanidade. Por esse motivo, podemos e devemos sonhar com um futuro melhor, que ainda não foi pensado nem escrito.


Este é o livro de um poeta que não receia pôr-se diante do espelho e ver-se em profundidade com os “fantasmas” da sua verdadeira descoberta de homem que procura no tempo a dimensão exata da sua presença no mundo.


O poema deste livro com que Cristian Coelho inaugura sua trajetória poética sinaliza, de imediato, algumas influências dialógicas. Por isso, merece que nos detenhamos mais detalhadamente sobre ele.


Começa por nos dizer que “...sonho a engravidar o tempo” ,fazendo lembrar Mia Couto ou remetendo-nos a Saramago quando evoca um episódio da infância do escritor luso “...despediu dos homens abraçando as árvores...”. Logo a seguir o poeta nos alerta que “Eu é o outro...” em que o diálogo com o outro é um imperativo do autor que se sente incomodado com “...a solidão da cidade...”. E prossegue “Eu via a gente sem pão...” Seu olhar para os desvalidos da sorte se faz presente de modo perturbador.


Christian Coelho revela os seus sonhos “sonho da angústia da escrita, do circo como acrobata da dor que salta sobre o vazio, um equilibrista na corda bamba do silêncio...” Neste, como em alguns outros poemas, o autor mergulha na consagração do silêncio, a gente já pensou tanto, já teve mãos por tantos lados, já dormiu e acordou – bom seria imaginar o espírito apaziguado, a reconciliação do pensamento com a matéria do mundo.


O diálogo com a matriz cultural portuguesa se faz presente relembrando a festa que foi a queda do fascismo e a revolução dos cravos e a figura emblemática de Fernando Pessoa com a sua poética de ”navegar é preciso”: “...bonita festa, pá/e a lavra do cravo que crava na terra a revolução/tanto mar, é preciso navegar “.


Lançando mão de uma de suas matrizes identitárias, o poeta nos conduz às Minas Gerais onde se garimpam pedras e palavras: “...eu lavro a mina, as Minas e seu garimpo/Minas palavra, pedra e abismo...”.


E seu poema se encerra com chave de ouro, num sonho labiríntico que dialoga com o tríptico: palavra, lavra e dor. Síntese perfeita “palavrador”: “...eu, labirinto/sonhei palavra, sonhei a dor/cantei a lavra, palavrador...”.


A viagem poética segue seu percurso ao longo do livro de Christian Coelho. Ele nos fala das mãos “Mãos, parte de um corpo,/e mesmo cansadas, resistem”. (p. 24) Não se pode sucumbir, é preciso resistir ...mas hoje amanhã/e depois/levantar é preciso (p. 31)...Dança das mãos/com o lápis/sobre o papel (p. 20)...para observar as invisíveis mãos/que com lápis de luz (p. 42). É esta capacidade de o homem trabalhar com as mãos que o torna um inventor ativo, mãos que tocam e deixam ser tocadas, um elemento de reciprocidade. Para o poeta a mão é instrumento de pensamento e o poema requer um fazer, a técnica poética requer o processo de pensamento utilizado pelo poeta é o meio para a materialização das ideias. E faz-nos um alerta ...Há muita transcendência no mundo,/mas pouco mundo (p. 49). Por isso, o poeta revela sua indignação perante a desumanização do ser humano e suas palavras se tornam contundentes: ...É isto um homem/caminhando em quatro apoios/sobre o lixo infinito e sob o céu/inalcançável/buscando primitivamente/um pedaço de pão apodrecido?...(p. 58)


O autor retoma o silêncio Escutador do/silêncio dos seres (p. 24). Antes de deixar ao leitor, ele mesmo, confrontar-se com o silêncio refinado que Christian Coelho nos propõe, ficamos aqui com o seu alerta: O silêncio daquele momento era incômodo. Sua força levava-nos como se fôssemos empurrados repetidas vezes de um lado para o outro. Palavras desconhecidas foram cantadas em nossos ouvidos pelo silêncio, de uma maneira quase calada. E ele trazia consigo outros silêncios remotos e algo ensurdecedores. Dizia-se que para nos lembrar de outro tempo, quase perdido. O silêncio de um tempo em que éramos algo que sempre nos disseram que jamais havíamos sido... (p. 41). E mais adiante Buscávamos/o silêncio; o ensurdecedor silêncio interior/ávido em expressar-se (p. 56).


O silêncio é, portanto, o lugar de sentidos que se fazem fora da representação da palavra, mas estão no imaginário humano, nas tramas do que o sujeito aprende e transforma em fantasia, em imaginação.


Mas ao falar de silêncio, esta palavra nos remete a outra: a do sonho. O poeta fala-nos do jogo/sonho das crianças “...Ao final do jogo/o movimento cessava/e no fundo de cada bolso/era levado o universo”. (p. 27) ...Na decadência da noite/os sonhos batiam asas/pelo quarto (p.32). E nos aponta o sonho maior: o sonho da liberdade ...surgiam sementes sonhadoras/e da imaginação brotava uma flor/um chamado à liberdade (p. 51).


Christian Coelho empunha a arma do lirismo ao desnudar a contradição relativa à forma perturbadora como são vistos os poetas no mundo real e no da fantasia, concluindo Ou/os bêbados, loucos e poetas/amados nos sonhos, nos filmes e nos livros/e desprezados nos cotidianos e nas ruas (p. 50) ...aprisionados pelo/instante/iludidos pelas excitações/do momento/apreciaram apenas/o esboço/o acabamento/apagou-se (p. 37).


Amor, corpo e música estão presentes no universo poético de Christian Coelho. O delicado erotismo coloca em diálogo o corpo e a caligrafia das palavras: As curvas do seu corpo/inspiravam as curvas da/caligrafia das minhas palavras no ar/pelas mãos do sol. (p. 39). ...Se cada vida é feita de um só fio,/nossos fios se entrelaçaram perenemente/em palavra, corpo e travessia (p. 40)...cada verso/era a afirmação da potência/de ser e devir ( p. 45)... Belíssimo As notas de um violão/se encontravam com bolhas de sabão/esculpidas (p. 38).


Momento é um poema brilhante. Saboreemos cada palavra, cada sílaba: E a tarde chorava/naquele momento em que/não é noite/mas também não é dia/nem claro nem escuro/um intervalo no mundo/talvez um labirinto/uma barca do tempo à deriva/o momento/do acaso e do ocaso (p. 52).


O poeta faz sua viagem à infância, ao seu alvorecer como ser humano. Ouçamos o que tem para nos dizer: O que é ver pela primeira vez?/Ou o velho peixe que, encontrando dois peixinhos, pergunta: “Como está a água hoje?”/E os peixinhos que, depois de um tempo, se perguntam: “Mas o que é água?”... A primeira palavra é o nascimento do mundo...(p. 62).


Na pág. 67 emerge o poema mais explosivo deste livro. Os senhores do mundo através de seus porta-vozes/especialistas apoderam-se de um vocabulário “sui generis” para ludibriarem as grandes massas exploradas. Christian Coelho não mede as palavras: Poema tirado de uma notícia de jornal sobre a matemática do mundo e a justiça de Deus e dos homens... Seis pessoas no mundo possuem mais da metade de toda a riqueza do planeta./Mais da metade da população mundial, extremamente pobre, detém menos de 1% desses recursos./Os especialistas, divergentes, denominaram o quadro como democracia, livre mercado, livre inciativa, livre concorrência, meritocracia, desenvolvimento, progresso, liberdade...


Sua poética é potencializada pelo jogo espacial da cartografia marítima e pela circularidade de leitura que esta cartografia convoca. O poema “Aquele mar” remete o leitor para os insondáveis mistérios e desafios do oceano. Naveguemos em alguns dos fragmentos do poema: ...o mar e o amar e a metamorfose/do mundo no ir e vir/das vidas e das ondas... delirante, no mar eu vejo um barco bêbado/eu vejo, flutuando, o afogado mais bonito do mundo/eu vejo, andando nas águas, um poeta vidente e via...(p. 73).


Outra via que o autor nos propõe para se alcançar o lugar ocupado na História por tantos lutadores e lutadoras é convidando leitor a encontrá-los nos intervalos dos golpes contundentes de seus versos. Como não ficar emocionado com todos aqueles que sacrificaram suas vidas por lutarem contras as tiranias e injustiças dos poderosos? Mar/Eu ouço o mar e suas vozes./Vozes banto, vozes banzo, vozes pranto./Vozes luto, vozes luta, vozes canto... Com os olhos marejados .../eu ouço um canto./Eu ouço Martin, Malcolm,/Maria, Lamarca,/Marighella, Marielle...(p. 90).


Na mesma cadência o autor, através de seu poema “Raízes”, denuncia a agência colonial e seu projeto desumanizador bem como a resistência a essa violência imposta ...Chegaram./Tomaram a terra e a palavra./Cravaram no solo a cruz e a santa revelação./Não são humanos, a terra é nossa./Direito divino./Em se plantando./E foi./Arderam corpos e cosmogonias./Pedras e cantos./Mas/a palavra espoliada resiste./Volta e revolta./E da terra/ensanguentada brotam/raízes e vozes...(p. 81).


O tempo esse “grande escultor” também se faz presente na ourivesaria poética de Christian Coelho. Ele se interroga ...Se um dia é o século das flores e uma noite é a idade das estrelas/que tempo é esse o dos homens?...(p. 83)...Coisas do tempo/e suas caligrafias de fogo/ardendo em instantes/memórias e imaginações...(p. 83)....E todos a olhar/O belo e o elo e o leve peso do voo/Ou a faca só lâmina afiada como a vida/E o abraço da memória do tempo e do vento...(p. 86).


Se o poeta existe para transformar em palavras aquilo que o coração sente, mas que poucas pessoas conseguem expressar, se ser poeta é conseguir mostrar ao mundo as sutilezas ao nosso redor, já que são elas que embelezam o mundo e nos dão esperança de dias melhores, como não ficar encantado com este hino à poesia: ...Caleidoscópio e alquimia/Mãos cavando o fundo dos olhos/Ou a pena, a tinta, o verbo e o embrião./Ela dizia: o que você faria?/Não era poesia. Era vida.(p. 87) ...E mais adiante ...e a poesia e os poetas/por aí/e perguntam – para quê?/não sei, não se sabe/mas a poesia continua por aí/(caro Gelman)/de pé/contra a morte (p. 88).


Na pág. 92 o poeta dialoga com sua identidade Eu/ouço/as ameríndias áfricas/que em mim/habitam...Ele parte à descoberta do eu, do "estrangeiro que habita em nós", como um processo de aprendizagem. Trata-se de uma narrativa de iniciação na busca da essência humana, bem como da própria essência do viajante, que em seu desvelamento, desvela a todos nós.


Nessa trajetória do poeta a componente africana e ameríndia se faz presente. Esse sul que ele carrega e cujas marcas se estilhaçam a cada traço de sua escrita, nos fazem mergulhar nesses horizontes infinitos onde nos deparamos com as rotas marítimas. E sua busca continua ...Ainda menino, lancei-me no centro da noite,/indagando o mistério das estrelas./No mistério, cheguei ao centro de mim mesmo./Me vi no centro da batalha, com armas nas mãos.(p. 108). Não ignora e presta a justa homenagem a um gênio da música brasileira ...Perfeição/ele não acreditava na perfeição/mas a imperfeição o incomodava muito/não/a voz/a batida/as mãos/o violão/mas/o ouvido/de João Gilberto (p. 98).


Sua herança cultural apresenta-se na despedida, deixando para a memória um papel primordial, já que a memória é muito mais que uma colagem, uma montagem, uma reciclagem, uma junção. Memória é tudo que pode deixar marcas dos tempos fragmentados que nós vivemos e que nos permite, a todo momento, fazer surgir e reunir as temporalidades passadas, presentes e que estão por vir... quando eu for/apenas memória/(por vezes radiante, pálida outras tantas)/quando eu for/apenas uma fotografia/envelhecida... quando eu for/tragado definitivamente/pela boca do tempo/e já não restar uma/mínima marca/da minha existência/eu serei, então...(p. 108).


A repercussão desta trajetória poética que o autor encetou neste “Palavrador” amplifica-se quando nele adicionamos a sua “biografia”. Com efeito, Christian Coelho faz parte de uma linhagem importante da literatura, aquela composta por pensadores que se viram tomados pela urgência de escrever. À maneira de Borges, podemos imaginá-lo nessa linhagem de poetas que estenderam a sua prática poética até alcançarem o indizível.


Esse olhar depois da viagem que o poeta empreende é um olhar diferente, mesmo quando se trata do olhar do leitor que se constitui através (ou por mediação) da leitura, é um olhar que trata do aqui e do além, do antes e do depois da experiência da viagem/leitura. Sendo assim podemos dizer que na leitura dessa viagem o leitor torna-se participante da mesma.


Seja como for, a escrita aqui não é da ordem de um passatempo, mas um modo de tratar experiências de vida. Inclusive aquela derivada da posição de estar diante de um ser humano que vem em busca de alívio.


Pois bem, a lista dos escritores “impertinentes” ou “inquietos” é rica e extensa, e a ela vem juntar-se Christian Coelho, por um caminho que lhe é próprio.


É a palavra quem circula entre o poeta e o leitor. Não deixa de ser um momento de celebração, no mundo atual, ver a palavra ser valorizada, apreciada, incentivada por alguém cuja prática cotidiana se confronta com as demandas as mais variadas e também com os silêncios os mais variados.


Com este livro Christian Coelho nos conduz ao limiar de uma aventura no campo do labor poético, onde combina, em diálogo harmonioso, a fantasia e a imaginação, a palavra e o silêncio. Indispensável tomar conhecimento dessa aventura.


 

José de Sousa Miguel Lopes


Belo Horizonte, junho/2020




[1] Moçambicano, com doutorado em História e Filosofia da Educação e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.


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