"À noite na cama" - Clarice Lispector
À noite na cama
À noite na cama Constança aproximava-se,
colava-se rente ao corpo quente de Henrique, tocava-lhe no peito liso
nas ancas magras, no púbis grande e largo, até o acordar e rebolarem
juntos nos lençóis revolvidos pelo sono.
Era o lugar de que esteio? As ancas estreitas e
duras, aquele
olhar sem piedade nem remédio que o escuro do quarto devorava
mas ela conhecia tão bem; tão perto da maldade.
Às vezes acordava de madrugada e ficava horas
debruçada
sobre ele, a respirar-lhe o cheiro. A beber-lhe o hálito. A lamber-lhe
os ombros até ele acordar e a abraçar, entrar nela e se virem os dois
ao mesmo tempo.
Numa pressa.
Num desatino.
Encharcados em suor.
Clarice Lispector
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