Navegando pelo cinema
Alain Bergala - Travelling
A palavra travelling é central em uma França admirada por todos
os cinéfilos, todos os estudantes de cinema, todos os críticos.
Jacques Rivette dizia que o travelling é uma questão de moral
muito importante. Isto quer dizer que não há de um lado, a moral do roteiro e de outro lado, a estética, que seria independente
do sentido moral. Então, o travelling ser uma questão de moral
significa que a escolha de fazer um travelling é uma escolha que
não somente estética, mas é também moral. Então, o fato de escolher um travelling em um dado momento se torna uma grande responsabilidade.
A frase vem de uma crítica de Jacques Rivette sobre um filme
que se chama Kapo, que se passa em um campo de concentração. O personagem andava e iria se jogar em uma cerca elétrica
para morrer. Nessa cena, então, cineasta fazia um travelling
para fazer uma bela imagem da mão da atriz. Rivette dizia no
Cahier du Cinéma que um cineasta que faz um plano assim é
um cineasta infame, isto é, é um cineasta que se deve desprezar.
Não temos o direito de fazer um movimento que termina em
um belo quadro, se ele está filmando o horror. Sendo assim, há algo que não vai bem e um plano assim é suficiente para julgar todo o filme.
A ideia do travelling como questão moral se fez então uma
tradição do pensamento crítico na França. Não se considera
que de um lado, há a estética, dizendo que é um bom filme,
bem enquadrado, bem escrito e de outro lado, o conteúdo. A
intenção com a qual se filma faz parte do conteúdo, não é isolável, separável do conteúdo em si. Trata-se de uma opção
crítica muito forte. É muito importante, por exemplo, quando se está com estudantes de fazê-los entender que não há de
um lado, um plano bonito e de outro, o conteúdo. Nós temos
uma responsabilidade na escolha estética e na escolha técnica
quando fazemos um filme.
Se desejar assistir à fala de Alain Bergala clique no vídeo aqui
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