segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Navegando pelo cinema

 




Alain Bergala - Kiarostami



Kiarostami é um cineasta que tem uma relação muito forte com a infância e um cinema ligado às crianças. Já em seus primeiros filmes, os personagens principais são crianças, de idades diferentes. Para ele, fazer cinema é, primeiramente, voltar à infância e contar histórias do mundo visto pela criança, a percepção do mundo vista pela criança. Antes de fazer filmes de ficção, antes de fazer cinema, ele trabalhou muito em filmes pedagógicos. Ele era empregado de uma instituição educativa, que se chama Le Canum e ele fazia curtas metragens de uso pedagógico. Depois, pouco a pouco, ele começou a fazer filmes. Primeiramente, curtas metragens de ficção, e depois longa metragens de ficção e se tornou, hoje, um dos maiores cineastas do mundo. Ele se interessou depois pelos adultos. Mas há sempre uma criança em seus filmes. Há sempre um personagem importante que é um menino ou uma menina em seus filmes, sobretudo, meninos, que dão, mesmo assim, outro ponto de vista da história. Mesmo que seja uma história de adulto. Por exemplo, no início de "Cópia Fiel", há um encontro amoroso, mas que é visto pelo filho da mulher, que não concorda, que não entende que sua mãe está tendo uma relação. Temos, então, também o ponto de vista da criança sobre uma história, que é uma história totalmente adulta. Sendo assim, Kiarostami, por outro lado, é um verdadeiro pedagogo. Kiarostami, ainda mais hoje, não precisa fazer workshop, fazer ateliers, fazer pedagogia. Mas ele faz em vários lugares. Quando ele vai a um país, ele reúne umas vinte pessoas jovens e ele faz filmes com eles. Ele os inicia, guia-os. É uma grande paixão para ele. Ele faz um número inacreditável de filmes. Para ele, a pedagogia faz parte da sua vida. Mesmo quando ele tem muito dinheiro para fazer grandes filmes, isto é essencial para ele. O que acontece é que, do ponto de vista da educação no cinema, "Onde fica a casa do meu amigo", é, sem dúvida, para mim, o filme mais universal. Quer dizer, é um filme muito particular porque se passa em um vilarejo no Irã. Um japonês não tem nenhuma ideia do que é. Entretanto, é um filme que alcança todas as crianças, todas se identificam. Todas as crianças do mundo inteiro entendem. Eu mostrei esse filme no Japão, eu mostrei esse filme em países completamente diferentes. E ele sabe. Ele me disse um dia: “Foi o meu primeiro filme, mas foi o meu filme mais universal. Não conseguirei mais fazer um filme que seja tão universal”. Pegando "Onde fica a casa do meu amigo", temos a impressão de que é um filme muito simples, no qual não há nada, apenas uma pequena ideia de roteiro. Temos a impressão de que ele segue sozinho, que é muito fácil fazer. E, na realidade, há sempre simplicidade e um enorme mistério. Por exemplo, o que quer dizer este carpinteiro que o acompanha no vilarejo durante a noite? Há sempre uma dimensão. A dimensão da história é muito simples, mas há sempre outra dimensão que é muito mais importante, que pode ser - no caso de "Onde fica a casa do meu amigo?" - uma dimensão meio mágica, meio secreta. E é igual em todos os seus filmes. Não é alguém que diz: “Olhem, eu vou contar uma história difícil”. É alguém que diz: “Olhem, eu vou contar uma pequena história, não é nada”. E, na realidade, ela tem um poder de evocação, de reflexão sempre muito grande. É o que faz com que ele seja um dos cineastas mais simples e mais misteriosos da história do cinema. E mesmo o último filme de Cannes, que parece muito simples, e, de repente, compreendemos que há uma virada. Compreendemos que estamos sob outro regime de pensamento. 
Se desejar assistir à fala de Alain Bergala clique no vídeo aqui






"Cenas de um casamento" de Hagai Levy (2021)




Seguida por uma câmera serpentina, Jessica Chastain atravessa o estúdio, entregando seu casaco e fones de ouvido para assistentes ansiosos. Documentando as condições de uma filmagem no clima Covid-19, esta cena de abertura acidentalmente revela uma primeira lacuna entre o projeto de Hagai Levi e o de Ingmar Bergman. Para estes, como para Jean Renoir, Alfred Hitchcock ou Jean-Luc Godard, a televisão é um campo de experimentação na medida em que convida a uma certa pobreza. Produzida com orçamento limitado e pequena equipe, "Cenas da vida conjugal" (1973) são fortes em sua constrição dramática e na nudez da encenação. A crueldade analítica de Bergman é (também) uma questão de estilo, ou seja, de economia: close-ups em longa distância focal, luz forte, enquadramento frontal sobre fundo branco (na cama, na sala, no escritório) colocando o casal como em uma mesa de dissecação. Do elenco às sequências banhadas na penumbra, Scenes From a Marriage, ao contrário, cai na categoria de minisséries de prestígio - o próprio fato de retomar Bergman não conta para nada. Para ler o texto de Raphael Nieuwjaer clique aqui





DOCUMENTÁRIO INTEGRAL - "Todos migram – a travessia na obra de João Cabral de Melo Neto" de Gisele Kato (2020)



No centenário de nascimento de João Cabral de Melo Neto, um dos maiores poetas da língua portuguesa, atores, músicos e escritores como Ana Lucia Torre, Lirinha e Marcelino Freire leem fragmentos e comentam as obras do escritor, como os poemas "Morte e vida severina" e "O rio". O legado de João Cabral é analisado por artistas e pensadores diferentes das gerações e escolas artísticas. Seu estilo de escrita e sua forma particular de abordar questões sociais, como a vida dos trabalhadores rurais, são alguns dos temas tratados pelo filme. Para assistir ao documentário (48') clique no vídeo aqui

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