quarta-feira, 19 de maio de 2021

"Bebedor de orvalhos" - José Paulo Pinto Lobo

 






Bebedor de orvalhos

 


Madrugada


Apago a luz da cozinha e assomo à janela


Observo a alameda vazia


Candeeiros esparsos desenham seus cones de claridade



 

Alguém esqueceu luzes acesas no apartamento da frente


No que estarão sonhando os vizinhos?


Passa apressadamente um cão vadio ou talvez não


De que certezas é ele portador?



 

Estranhamente nem uma folha se mexe


Nos frondosos plátanos cujos ramos quase tocam nossas janelas


Que faço eu nesta tardia hora divagando?


Ouço o som dos lixeiros virando os caixotes de detritos dos outros



 

Estou triste? Não sei, talvez sonâmbulo


Vagueando em pensamentos sem rumo e sem freio


Temos de ser ou sentir?


Não podemos somente volutear por entre os viçosos plátanos?



 

Afinal, sou um pássaro nocturno


Bebendo os orvalhos da madrugada


 

 

José Paulo Pinto Lobo



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