terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Nove fragmentos do meu “Livro de Eros” - Casimiro de Brito





 


Nove fragmentos do meu “Livro de Eros”




1438


Bem mais doce do que seda o colo da minha amada.



1555


O teu sol aquece-me, ilumina-me, ele vem do mais fundo das tuas terras. “Queres dizer, a minha lua?”



1562


Abres-te. Acaricias. Entro. Envolves. Ardo. Vagueio no teu jardim. Sugas. Vou explodir. Retiro-me. Apertas, não queres que saia. Há dentro? Há fora? Derramo-me. Nos teus seios. Fechas os olhos. Baixas o queixo. Desenho. Papel de pele. Ardo. Ardes em mim. Lentamente.



1597


A minha amiga, ferida no seu ponto mais fundo, chora e depois sorri e depois pediu-me que a ferisse um pouco mais.



1658


Haverá amor sem “mas”? E poderá haver amor se houver um “mas”? As memórias, as experiências, as frustrações, a dor, as próprias alegrias de quando mergulhámos em águas amantes — haverá amor sem “mas”? Não sei. Ando a ver se descubro.



1759


Saudades do futuro, dizes. Mas o futuro não está muito longe. Não, não está, basta empurrares a porta.



1979


Ela e ele. Vénus e Marte? Contemplam-se. Tocam-se. Afastam-se para se verem melhor. Trocam palavras. Beijam-se. Respiram fundo. Abrem-se um pouco mais. Acariciam-se. E ora se elevam, ora se afundam. Voam. Caem. Ardem húmidos. Uma ternura fogosa. E depois, quem sabe?



2009


Uma fogueira em repouso. O corpo da mulher que dorme a meu lado.



2130


E mal te afastaste fiquei incompleto. Amputado. Não me queixo pois sei que me levaste contigo.




Casimiro de Brito


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