Nove fragmentos do meu “Livro de Eros” - Casimiro de Brito
Nove fragmentos do meu “Livro de Eros”
1438
Bem mais doce do que seda o colo da minha amada.
1555
O teu sol aquece-me, ilumina-me, ele vem do mais fundo das tuas terras. “Queres
dizer, a minha lua?”
1562
Abres-te. Acaricias. Entro. Envolves. Ardo. Vagueio no teu jardim. Sugas. Vou
explodir. Retiro-me. Apertas, não queres que saia. Há dentro? Há fora?
Derramo-me. Nos teus seios. Fechas os olhos. Baixas o queixo. Desenho. Papel de
pele. Ardo. Ardes em mim. Lentamente.
1597
A minha amiga, ferida no seu ponto mais fundo, chora e depois sorri e depois
pediu-me que a ferisse um pouco mais.
1658
Haverá amor sem “mas”? E poderá haver amor se houver um “mas”? As memórias, as
experiências, as frustrações, a dor, as próprias alegrias de quando mergulhámos
em águas amantes — haverá amor sem “mas”? Não sei. Ando a ver se descubro.
1759
Saudades do futuro, dizes. Mas o futuro não está muito longe. Não, não está,
basta empurrares a porta.
1979
Ela e ele. Vénus e Marte? Contemplam-se. Tocam-se. Afastam-se para se verem
melhor. Trocam palavras. Beijam-se. Respiram fundo. Abrem-se um pouco mais.
Acariciam-se. E ora se elevam, ora se afundam. Voam. Caem. Ardem húmidos. Uma
ternura fogosa. E depois, quem sabe?
2009
Uma fogueira em repouso. O corpo da mulher que dorme a meu lado.
2130
E mal te afastaste fiquei incompleto. Amputado. Não me queixo pois sei que me
levaste contigo.
Casimiro
de Brito
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