segunda-feira, 29 de julho de 2019

Noam Chomsky: "O que aconteceu no Brasil deve ser visto como um modelo do que pode vir"


Chomsky aborda a ascensão da extrema-direita, assinalando que “o Brasil talvez seja o caso mais extremo agora”, mas também fala sobre os motivos de otimismo nos EUA, dando o exemplo do Green New Deal de Ocasio-Cortez. 
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Bolsonaro lidera República da Ignorância 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, com as mãos levantadas


Ministro Guedes quer negociar oxigênio da Amazônia, mas não é o único na Esplanada a pontificar sobre o que desconhece

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·        Marcelo Leite*

29.jul.2019

Há ministros que dizem besteiras sobre ciência e desenvolvimento por oportunismo ou má-fé, como Ricardo Salles (Meio Ambiente). Outros, por conveniência e farisaísmo, como Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Outros ainda, por pura ignorância, como Paulo Guedes (Economia).
Começando pelo último, o mais recente. Guedes, seguindo a liderança do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sentado a seu lado, deitou falação sobre a Amazônia num evento da Suframa. Deu um show de desconhecimento sobre a floresta.
Para bajular o capitão, pôs-se a discorrer sobre as riquezas materiais e biológicas da Amazônia, “que nenhum outro país tem”: minérios, gás e, principalmente, biodiversidade. E, claro, oxigênio.
Oxigênio?!

O superministro não prima pela clareza. Sua referência ao elemento químico imprescindível à vida se deu no contexto de um argumento sobre negociações comerciais com os Estados Unidos. O proverbial toma-lá-dá-cá: vocês deixam entrar o etanol, nós deixamos entrar o milho etc.
Aí ele disse que questionaria os negociadores americanos: “Vocês reconheceriam nosso direito de propriedade sobre o oxigênio?” —largou Guedes. “Nós produzimos oxigênio para o mundo.” Sugeriu que Manaus se tornasse a capital mundial de transações com oxigênio e carbono.
Não, ministro, não é nada disso. O senhor caiu no conto do “pulmão verde do mundo”, um equívoco pedestre. O erro indica que a pessoa faltou nas aulas ginasianas de botânica.
Árvores produzem oxigênio durante o dia. Empregam energia solar para fazer fotossíntese, ou seja, utilizam gás carbônico (CO2) do ar para sintetizar carboidratos, num processo que tem oxigênio (O2) como subproduto.
Durante o dia, note bem. À noite, as plantas respiram como nós: consomem oxigênio e expelem gás carbônico. Num sistema em equilíbrio, não há superávit de O2 para vender. Pulmão verde uma ova.
Ocorre que a floresta amazônica não se encontra em equilíbrio. Ela já perdeu uns 800 mil km2, 20% da área original, mais da metade disso só nas últimas três décadas.
Multiplicado esse número pelas 30 ou 40 mil toneladas de biomassa em cada quilômetro quadrado de mata, tem-se uma ideia de quanto CO2 o desmatamento lançou na atmosfera com a queima e a decomposição de toda essa matéria vegetal. O CO2 é um gás do efeito estufa, que agrava o aquecimento global e nos projetou na crise climática que o planeta enfrenta.
Não se trata, portanto, de produzir oxigênio para o mundo, mas de parar de poluir a atmosfera e de azucrinar o clima da Terra. Com todo o respeito, ministro Guedes, o senhor está mal informado.
Marcos Pontes, por seu turno, não teve pudor de lançar hidrogênio na fogueira da reputação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciada porBolsonaro. Depois das ofensas do presidente contra o instituto, em lugar de defendê-lo, disse que vai convocar o diretor do Inpe para dar explicações sobre possíveis falhas na metodologia do monitoramento florestal.
Para um ex-astronauta, cujo feito não foi mais que uma viagem de turismo espacial, mais ainda um beneficiário do complexo espacial erguido sob as asas da Aeronáutica em São José dos Campos (CTA, ITA, Inpe, Embraer), é um acinte. Vale tudo para se manter no cargo.
De Ricardo Salles, Damares AlvesAbraham Weintraub e Osmar Terra é melhor nem falar. Com Pontes e Guedes, formam o primeiro escalão zureta da República da Ignorância que Bolsonaro instaurou e lidera em Brasília, secundado por Huguinho, Zezinho e Luizinho.

*Jornalista especializado em ciência e ambiente, autor de “Ciência - Use com Cuidado”.

Fonte: Aqui


Semeador no espaço, astronauta Marcos Pontes pode facilitar devastação na Terra

O presidente da república Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da ciência e tecnologia, Marcos Pontes


Reinaldo José Lopes*

 Presidente e ministro cobraram explicações sobre dados de desmatamento do Inpe

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·        28.jul.2019

Nunca achei justo que ridicularizassem Marcos Pontes, por enquanto o único astronauta brasileiro, por ter plantado feijões no espaço, repetindo a experiência que toda criança do país já fez com algodões em casa algum dia. A ideia, na verdade, até me soava inspiradora, de um jeito singelo, tal como a própria trajetória de Pontes.
A reação invertebrada do atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações aos chiliques de Bolsonaro sobre o desmatamento na Amazônia esmigalhou essas ilusões, feito um pedaço de lixo espacial caindo na cabeça de um transeunte incauto. O cenário se transformou numa versão amarga da parábola do semeador: o plantador de feijões espaciais capaz de engolir qualquer distorção dos fatos para que a floresta dê lugar a capim e soja na Terra.
 Caso você tenha andado pelo espaço nos últimos dias, eis um resumo da ópera bufa a que me refiro. O presidente da República disse que os dados de satélite sobre o desmate amazônico, analisados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), seriam exagerados ou falsos, e que o pesquisador Ricardo Galvão, diretor do Inpe, poderia estar a “serviço de alguma ONG.”
“Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido”, arrematou Bolsonaro.
É curioso que um egresso do oficialato do Exército aparentemente não entenda matemática básica —os dados do Inpe apontam uma perda de cerca de 20% da área original da mata, o que está muito longe de ser sumiço completo. (“Extinção” a gente usa para espécies, em geral, senhor presidente.) Mas o buraco é muito, muito mais embaixo.
Um dos problemas centrais do atual governo federal é simples: por incapacidade, conveniência ou uma mistura perversa dessas e de outras motivações, Bolsonaro e todos os seus principais apoiadores resolveram jogar o método científico na lata do lixo. Estão tratando a ciência como inimiga, pura e simplesmente.
Alarmismo de jornalista nerd? Pois considere o modus operandi do presidente nesta crise, que repete, quase à perfeição, o empregado em outras polêmicas (sobre drogas, sobre armas, sobre tudo).
Em vez de começar com a análise cuidadosa dos dados da realidade, como requer a ciência, o governo do PSL já vem com a conclusão pronta: eu acho, eu quero, portanto é verdade. Se os fatos me contradizem, pior para os fatos.
Pontes parecia ser uma exceção. No entanto, deu-se ao trabalho de escrever, em nota oficial, que “a contestação de dados, assim como a análise e discussão de hipóteses, são elementos normais e saudáveis do desenvolvimento da ciência”.
E são mesmo —quando o sujeito tira as contestações e as hipóteses de algum lugar real, e não dos recônditos da própria cachola. Foi o que Bolsonaro (“nosso presidente Bolsonaro”, como destacou, subserviente, o ministro) não fez, nem de longe, preferindo chutar, sem base nenhuma, que havia erro ou má-fé nos dados.
O marketing político do bolsonarismo costuma destacar a força da disciplina e da unidade que vem do ambiente militar. Ao bater continência a seu superior sem pestanejar, em vez de recordar a ele os fatos, Pontes esquece que nenhum exército sobrevive à negação da realidade. Não se invade a Rússia no inverno; não se brinca com as bases do ambiente que nos nutre a todos. Os mortos e feridos dessa guerra não serão os bolsonaristas de hoje, mas seus —e nossos— netos.
*Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".

Fonte: Aqui

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