Bolsonaro fez 57,7 milhões de votos mas sua
preocupação mesmo é agradar aos seus seguidores no Twitter. Ele tem
2,4 milhões de followers na rede social. Considerando robôs, perfis
duplicados e abandonados, gente que segue o homem por dever de
ofício ou pra passar raiva, há menos eleitores e fãs de fato do que
o número sugere.
Antes de virar o presidente do Brasil, Bolsonaro virou o presidente
do Twitter. O que é a indicação desse novo ministro das Relações
Exteriores se não uma lacração para as massas de arrobas
embriagadas de capitão? Ernesto Henrique Fraga Araújo “quer ajudar
o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista”,
definiu-se o próprio em um blog que, à primeira, segunda e terceira
leitura, tive dificuldades para entender se aquilo tudo era escrito
a sério ou se nosso novo ministro é uma versão do Tiririca que
cursou faculdade.
Ele escreve em seu blog, por exemplo, que o aquecimento global é
predominantemente uma “ideologia da mudança climática, o climatismo”.
E garante: “O climatismo diz: ‘Você aí, você vai destruir o
planeta. Sua única opção é me entregar tudo, me entregar a condução
de sua vida e do seu pensamento, sua liberdade e seus direitos
individuais. Eu direi se você pode andar de carro, se você pode
acender a luz, se você pode ter filhos, em quem você pode votar, o
que pode ser ensinado nas escolas. Somente assim salvaremos o
planeta. Se você vier com questionamentos, com dados diferentes dos
dados oficiais que eu controlo, eu te chamarei de climate denier e
te jogarei na masmorra intelectual. Valeu?”
Então você só estava caminhando com papel de bala no bolso pra
jogar na lata de lixo adequada, tentando ser um bom cidadão, e nem
sabia que o climatismo queria sua alma. Jogue uma latinha de Coca
Cola no chão e liberte-se.
O governo tuiteiro lacrador de Bolsonaro vem sendo construído há
muitos anos. Suas sementes estão espalhadas pela rede e podemos
buscar cada uma delas diante de cada fato novo gerado pela máquina
de memes que é seu gabinete de transição. A última delas foi o caso
dos médicos cubanos.
Visivelmente abalado com a decisão cubana, Bolsonaro foi ao Twitter
(claro) e tuitou: “Atualmente, Cuba fica com a
maior parte do salário dos médicos cubanos e restringe a liberdade
desses profissionais e de seus familiares. Eles estão se retirando
do Mais Médicos por não aceitarem rever esta situação absurda que
viola direitos humanos. Lamentável!”
O uso da expressão abominada pelo bolsonarismo raíz me causou
espanto. Abri o TweetDeck e fiz uma busca no perfil
oficial @jairbolsonaro: digitei “direitos humanos” entre aspas.
Bolsonaro usou as duas palavras combinadas exatas 53 vezes desde
janeiro de 2013, quando falou pela primeira vez sobre o assunto no
Twitter. Teve 55 retuítes e dois likes. As palavras
associadas a “direitos humanos” em todas as suas manifestações
desde então vão de “CANALHADA dos direitos humanos” a “ESTERCO DA
VAGABUNDAGEM”, assim mesmo em letras maiúsculas.
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