quinta-feira, 15 de novembro de 2018

"Sobre o êxtase " - Casimiro de Brito

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Sobre o êxtase
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Que caminho é esse que não vejo mas prevejo? Foi o êxtase do primeiro olhar e um derrame inesperado no sangue, na respiração, no que muitos outros chamam de alma, de coração. Ao mesmo tempo! Uma lágrima onde vi um sorriso interior. Como se tudo o que vem a seguir, o que a seguir se deseja, fosse um apelo para o fundo e para o alto em que ambos estamos, em que ambos vamos desejar estar ao mesmo tempo.

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Caminhos do amor: do acaso à surpresa, do desejo ao prazer, da angústia à dor, do sofrimento ao desespero, do combate ao êxtase, da lembrança à melancolia. Caminhos ou veredas?

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Êxtase. Sobre, sob. O teu orgasmo: umas vezes ruidoso, outras vezes profundamente silencioso. Mas sempre terroso e marítimo. Um regresso a um novo princípio. Se grito, ou tu gritas, esquecemo-nos de toda a restante vida. Se silenciamos entramos no reino das aves, que tão alto voam.

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E depois acontecem esses momentos em que se sofre com prazer e se goza na dor. Há quem lhe chame êxtase. Ou delírio. Ou sacrifício. Um êxtase doloroso.

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Eu sou a raiz, tu és a terra. A árvore comum cresce. Alimentamos a serpente, eu a tua e tu a minha. A maçã oferece-se, quer ser comida. E em todos os lugares deste palco nos entregamos um ao outro. Bebendo o licor da morte mais delicada. A dor? Aquece-nos. O medo? Ficou lá fora. O êxtase? Já nos corre no sangue. Quem disse isto, quem disse aquilo?


Casimiro de Brito


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