ELEIÇÕES: Sinal de alerta máximo (3)
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Leia abaixo "Alô, companheiros de elite" de Ricardo Semler
Alô, companheiros de elite
*Ricardo
Semler
04/10/2018
Não vamos deixar o pavor instruir
nossas escolhas
Na Fiesp, quando eu tinha 27 anos e
era vice do Mario Amato, convidávamos outsiders para uma conversa no bar.
Chamei o FHC, que estava na mídia com a pecha de maconheiro. Chamamos os 112
presidentes de sindicato, vieram 8. Ninguém topava falar com "comunista".
Alguns anos depois, fui ao Roda Viva para alertar contra a eleição do Collor,
queridinho passional das elites.
Recentemente, realcei que a ida das elites à Paulista para derrubar a Dilma
equivalia a "eleger" o Temer e seus 40 amigos. Ninguém da elite quis
ir às ruas para pedir antecipação de eleições. Erraram feio, como no passado,
ou como quando deram as chaves da cidade ao Doria. Quanta ingenuidade.
Agora, estremeço ao ouvir amigos, sócios e metade da família aceitando a tese
de que qualquer coisa é melhor do que o PT. Lá vamos nós, de novo. As elites
avisaram que 800 mil empresários iriam para o aeroporto assim que Lula
ganhasse. Em seguida, alguns dos principais empresários viraram conselheiros
próximos do homem.
Sabemos que, em vencendo Haddad, boa parte da Faria Lima e da Globo se
recordará subitamente que foi amiga de infância do Fernandinho --"tão boa
pessoa, nada a ver com o Genoino, gente!".
A reação de medo e horror da esquerda, Ciro incluso, é ignorante. Vivemos, nós
da elite, atrás de muros, cercados de arames farpados e vidros blindados,
contratando os bonzinhos das comunidades para nos proteger contra favelados.
Oras, trocar vigias com pistolas por seguranças com fuzis é um avanço? Ou é
melhor aceitar que o país é profundamente injusto e um lugar vergonhoso para
mostrarmos para amigos estrangeiros?
Vamos continuar na linha do projeto Marginal, plantando ipês lindos para
desviar a atenção do rio?
?Não compartilho com os pressupostos ideológicos do PT e ?até pouco? fui
filiado a um partido só, o PSDB. Nunca pensei em me filiar ao PT, nunca
aceitaria envolvimento num Conselhão de Empresários, por exemplo.
Apenas reconheço que as elites deste país sempre foram atrasadas, desde antes
da ditadura, e nada fizeram de estrutural para evitar o sistema de castas que
se instalou.
Nenhum de nós sabe o que é comprar na C&A e ser seguido por um segurança
para ver se estamos para roubar, por sermos de outra cor de pele. Todos nós nos
anestesiamos contra os barracos que passamos a caminho de GRU, com destino à
Champs Élysées.
Este é um país que precisa de governo para quem tem pouco, a quase totalidade
dos cidadãos. Nós da elite, aliás, sabemos nos defender. Depois do susto, o
dólar cai, a Bolsa sobe, e voltamos a crescer. Estou começando três
negócios novos neste mês.
Qual de nós quer pertencer ao clube dos países execrados, como Filipinas,
Turquia, Venezuela? É um clube subdesenvolvido que foi criado à força, mas
democraticamente, bradando segurança e autoridade forte. Soa familiar?
Quem terá coragem, num almoço da City de Londres, de defender a eleição de um
capitão simplório, um vice general, um economista fraco e sedento de poder, e
novos diretores de colégio militares, com perseguição de gays, submissão de
mulheres e distribuição de fuzis à la Duterte?
Lembrem-se desta frase do Duterte, a respeito de uma australiana violentada nas
Filipinas: "Ela era tão bonita ?eu deveria ter sido o primeiro".
Impossível imaginar o Bolsonaro dizendo isso?
Colegas de elite, acordem. Não se vota com bílis. O PT errou sem parar nos 12
anos, mas talvez queria e possa mostrar, num segundo ciclo, que ainda é melhor
do que o Centrão megacorrupto ou uma ditadura autoritária. Foi assim que a
Europa inteira se tornou civilizada. Precisamos de tempo, como nação, para espantar
a ignorância e aprendermos a ser estáveis. Não vamos deixar o pavor instruir
nossas escolhas. O Brasil é maior do que isto, e as elites podem ficar, também.
Confiem.
*Empresário, sócio da Semco Style
Institute e fundador das escolas Lumiar; ex-professor visitante da Harvard Law
School e de liderança no MIT (EUA)
Fonte: Aqui
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