O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual
Tendo em vista o amplo acesso às
tecnologias de informação e comunicação (TICs) na sociedade contemporânea, com
a promessa de um mundo virtual sem limites exercendo intenso poder de atração
sobre os jovens, faz-se necessária a análise dos mecanismos ideológicos de
manipulação psicológica postos em ação pela indústria cultural global no seio
da subjetividade juvenil. Assim, o presente estudo teve como objetivo
identificar os hábitos e os interesses dos adolescentes no ciberespaço,
buscando apreender os possíveis efeitos em sua constituição subjetiva. A
pesquisa empírica foi dividida em duas etapas desenvolvidas simultaneamente: a
primeira constou de um percurso
etnográfico na cibercultura com o
intuito de desvendar os interesses econômicos subjacentes aos sites frequentados pelos jovens; a
segunda etapa foi realizada em uma escola pública e em uma escola privada,
localizadas em um mesmo bairro de São Paulo, onde foram aplicados 108
questionários aos estudantes do último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 16 anos, de ambos os sexos. Na
escola pública, foram realizadas observações participativas nas aulas de
Informática Educativa. Em ambas efetuaram-se entrevistas com alunos
considerados por seus colegas como os “mais conectados à internet”, bem como
entrevistas complementares com professores, coordenadores e diretores. A
interpretação e a análise dos dados fundamentaram- se na filosofia da educação,
teoria crítica e psicanálise. Constatou-se que as atividades preferidas dos
adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a
vídeos, visitar home pages de
celebridades e de pornografia. Concluiu-se que os jovens são atraídos pelo
ciberespaço principalmente pela possibilidade de exercitar fantasias virtuais e
se sentirem aceitos pelo grupo.
Entre os meninos, prevaleciam as fantasias onipotentes e sádicas, com as
seguintes temáticas: o terrorista/policial, o herói/sobrenatural, o hacker/expert. Entre as meninas, eram
frequentes as fantasias românticas, cujos temas principais envolviam: a
amada/escolhida, a mãe/bebê, a celebridade. Observou-se que as fantasias
virtuais são produzidas pela indústria audiovisual, geralmente, a partir de
componentes perverso- polimórficos reeditados, identificados pelo que T. W.
Adorno denominou de “psicanálise às
avessas”. Ao se fixarem nas
fantasias virtuais por meio das “próteses digitais imagéticas”, a capacidade
dos jovens de apreensão das experiências de suas vidas sofrem alterações
significativas, dificultando a reflexão sobre estas. O investimento libidinal
nos dispositivos televisuais, reduzido às satisfações escopofílicas e à
excitação constante dos sentidos, não contribui para a assunção epistemofílica,
resultando no empobrecimento do imaginário e do simbólico. No ciberespaço os
adolescentes têm seus direitos de proteção violados, uma vez que seus
psiquismos ainda se encontram em desenvolvimento. Os interesses no lucro
parecem prevalecer em relação a qualquer dimensão ética envolvida. Nesse contexto,
a internet, ao invés de ser um importante instrumento de ampliação do
conhecimento e de participação social, da maneira como tem sido utilizada, tem
contribuído para a alienação e fixação em satisfações narcísicas. Assim,
conclui-se ser importante não somente a inclusão digital, no sentido de
apropriação das TICs nos ambientes escolares, mas também uma efetiva formação
crítica dos jovens em relação às mídias, fornecendo-lhes condições para que
possam refletir sobre as ficções nas quais estão inseridos.
Para ler a Tese de Doutorado completa de Cláudia Dias Prioste, da Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 361 págs. clique aqui.
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