quarta-feira, 4 de abril de 2018

Retrospetiva Roberto Rossellini



Retrospetiva Roberto Rossellini
 

Por ocasião da 11ª Festa do Cinema Italiano, e em colaboração com o projeto ICON - Independent Cinema Online da Europa Criativa, Filmin acolhe uma retrospetiva do mestre do Neo-Realismo Italiano, Roberto Rossellini.
São dez títulos, alguns dos quais inéditos em Portugal que estão disponíveis a partir de hoje. 

Os filmes da retrospetiva são:

Roma, Cidade Aberta (1945)
Enquanto Roma é ocupada pelos Nazis, cruzam-se histórias de vida. Entre as personagens, encontram-se Pina, Francesco e Manfredi, líder do movimento da resistência romana. O padre Pietro ajuda a resistência, transmitindo as suas mensagens e auxiliando o movimento financeiramente. A Gestapo captura o padre e interroga-o, tentando convencê-lo a trair a sua causa. Roma, Cidade Aberta é considerado um exemplo fulcral do Neo-realismo, formando juntamente com Libertação e Alemanha, Ano Zero a chamada “Trilogia Neo-Realista”.

Libertação (1946)
Libertação é segundo filme da “Trilogia Neo-Realista” de Rossellini. Dividido em seis episódios, o filme tem lugar durante a Segunda Guerra Mundial. No primeiro episódio, uma rapariga siciliana trava amizade com um soldado americano. No segundo, um napolitano rouba as botas a um soldado americano. No episódio seguinte, uma prostituta de Roma encontra um soldado que tinha conhecido no dia da Libertação e no quarto episódio uma enfermeira inglesa deambula por Florença à procura de um amor antigo. Um judeu e um protestante passam a noite num mosteiro no quinto episódio e no último episódio as tropas americanas são vítimas da ferocidade dos Nazis.

Alemanha Ano Zero (1948)
O filme segue Edmund, um rapaz que vive na cidade de Berlim, destruída pela Segunda Guerra Mundial. Para ajudar a sua família, Edmund tem que pensar em várias formas de arranjar comida e sobreviver. Um dia, encontra um antigo professor e Edmund espera que ele o ajude de alguma forma. Porém, não é isso que acontece.

O Amor (1948)
O filme é composto por dois segmentos. O primeiro, “Una voce umana”, é inspirado na obra “La voix humaine” de Cocteau e mostra uma chamada telefónica de uma mulher abandonada pelo seu amante. O segundo segmento, “Il Miracolo”, conta a história de uma agricultora, seduzida por um estranho. Quando engravida, a mulher acredita que foi graças ao poder do Espírito Santo.

Stromboli (1950)
Karen é uma refugiada. De modo a poder ficar em Itália, ela casa-se com um marinheiro da ilha de Stromboli, na Sicília. Rapidamente, o facto de ambos terem mentalidades diferentes cria conflitos entre o casal. Odiada pelos habitantes da ilha e praticamente ignorada pelo marido, Karen procura forças para sobreviver nesse contexto. Este é o filme que marca a primeira colaboração entre Rossellini e Ingrid Bergman.

A Máquina de Matar Pessoas Más (1952)
Graças ao que pensava ser uma revelação do seu santo protector, o fotógrafo Celestino Esposito descobre que a sua câmara tem um poder especial: um simples clique pode fazer desaparecer os homens maus. Mais tarde, descobre que isso não acontecia devido ao poder do santo mas sim ao próprio Diabo.

O Medo (1954)
Irene Wagner, mulher do professor e cientista Albert Wagner, tem mantido um caso amoroso com Erich Baumann, longe do conhecimento do marido. No entanto, Irene é surpreendida quando Johann Schultze, a ex-namorada de Erich, descobre o caso e começa a chantageá-la.

Viagem em Itália (1954)
Os Joyce são um casal inglês interpretado por Ingrid Bergman e George Sanders que viaja para Itália com o objectivo de ver uma propriedade perto de Nápoles, recentemente herdada. Rossellini transforma a história de um casal aborrecido a viajar por Itália numa história sobre crueldade e cinismo, à medida que o casamento destas duas personagens se desintegra.

India, Terra Mãe (1959)
"India Matri Bhumi" foi a obra que marcou a rutura de Rossellini com o cinema narrativo tradicional, sendo o filme percursor dos seus futuros trabalhos para a televisão. O filme procura mostrar "outros modos de vida e de pensamento", perscrutando as castas e as religiões que formam o povo indiano, mas interrogando-as sempre em relação com a natureza e com a dimensão espiritual subjacente. Destaque-se a fórmula lapidar com que, à época, Godard afirmou a sua importância: "India engloba o cinema mundial, tal como as teorias de Riemann e Planck englobam a geometria e a física clássicas". A invenção de um cinema "total". Já Truffaut, defendeu "India Matri Bhumi" como "um poema livre, fora do tempo e do espaço".


A Força da Razão (1971)
Maio, 1971. Roberto Rossellini entrevista Salvador Allende poucos meses antes das eleições que o elegeram Presidente do Chile, onde apresenta o programa de governo à opinião pública mundial, aproveitando da notoriedade do entrevistador e onde demonstra consciência dos riscos que sabe que está a correr também como ser humano, tendo em contra forças reacionárias firmes em fazer de tudo para impedir que realize os seus planos. Esta entrevista foi transmitida na televisão italiana RAI pouco depois do assassínio do Presidente Allende. 



ROBERTO ROSSELLINI:
Nascido numa família burguesa de Roma, o pai de Roberto Rossellini foi o fundador do primeiro cinema romani (um teatro onde se podiam mostrar filmes), garantindo ao jovem Roberto um passe de livre acesso, sendo que começou a frequentar o cinema desde uma idade muito precoce. Quando o pai morreu, Roberto Rossellini trabalhou como técnico de som em filmes, y durante algum tempo trabalhou em várias áreas relacionadas com a produção cinematográfica. Em 1938 realizou a sua primeira curta-metragem, “Preludie à l’aprés-midi d’un faune”, depois do cual trabalhou como assistente de Goffredo Alessandrini no filme "Luciano Serra, pilota” um dos filmes italianos da primeira metade do século com mais sucesso. Em 1940 trabalhou como assistente de Francesco De Santis em “Uomini sul fondo”. A primeira longa-metragem de Roberto Rossellini foi “La Nave Bianca” de 1941, primeira também da chamada Trilogia Fascista, junto com “Un pilota ritorna” (1942) e “Uomo dalla Croce” (1943). A esta fase corresponde também a sua amizade e colaboração com Federico Fellini e Aldo Fabrizi. Após o fim do regime fascista em 1945, e após unicamente dois meses da libertação de Roma, Rossellini já estava em preparações para “Roma, cidade aberta”, com Fellini a assistir no guião e Fabrizi no papel de sacerdote, filme produzido pelo proprio Rossellini, obtendo a maior parte do dinheiro a través de empréstimos e créditos. O filme foi um sucesso imediato, e Rossellini começou assim a sua Trilogia Neo-realista, cujo segundo filme foi “Paisà” (Libertação, 1946), filmada inteiramente com atores não profissionais, e o terceiro, “Germania ano zero” (Alemanha, Ano Zero, 1947), patrocinada por um produtor francês e filmada no setor francês de Berlim.  Como declarou numa entrevista, "para criar realmente a personagem que tem na cabeça, é necessário que o realizador entre numa batalha com o ator, na qual o realizador normalmente acaba por se someter aos desejos do ator. Como não quero estar a gastar as minhas energias numa batalha como esta, só uso atores profissionais em certas ocasiões”. Diz-se que uma das razões do sucesso de Rossellini foi o facto que o realizador reescreveu os guiões de acordo com os sentimentos e as histórias dos seus atores não profissionais. Acentos regionais, dialetos e modos de vestir vêm-se nos seus filmes da maneira em que eram realmente.Depois da sua Trilogia Neo-Realista, Rossellini produziu duas longas-metragens que hoje são consideradas como cinema transicional: “L’Amore" (O Amor) com Anna Magnani e “La macchina ammazzacattivi” (A Máchina de Matar Pessoas Más), mostrando realidade e verdade.Em 1948, Rossellini recebe uma carta de Ingrid Bergman onde se propõe para trabalhar com ele, e assim começa umas das histórias de amor mais conhecidas do mundo do cinema, com Ingrid Bergman e Roberto Rossellini no topo da popularidade. Começaram a trabalhar juntos um ano mais tarde em “Stromboli” e em “Europa ’51”.  Em 1954 “Viaggio in italia” (Viagem em Itália) completa a chamada Trilogia de Ingrid.


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