Retrospetiva Roberto Rossellini
Por ocasião da 11ª Festa do Cinema Italiano, e
em colaboração com o projeto ICON - Independent Cinema Online da
Europa Criativa, Filmin acolhe uma retrospetiva do mestre do
Neo-Realismo Italiano, Roberto Rossellini.
São dez títulos, alguns dos quais inéditos em Portugal que
estão disponíveis a partir de hoje.
Os filmes da retrospetiva são:
Roma,
Cidade Aberta (1945)
Enquanto Roma é ocupada pelos Nazis, cruzam-se histórias de
vida. Entre as personagens, encontram-se Pina, Francesco e
Manfredi, líder do movimento da resistência romana. O padre
Pietro ajuda a resistência, transmitindo as suas mensagens e
auxiliando o movimento financeiramente. A Gestapo captura o
padre e interroga-o, tentando convencê-lo a trair a sua causa.
Roma, Cidade Aberta é considerado um exemplo fulcral do
Neo-realismo, formando juntamente com Libertação
e Alemanha,
Ano Zero a chamada “Trilogia Neo-Realista”.
Libertação
(1946)
Libertação é
segundo filme da “Trilogia Neo-Realista” de Rossellini.
Dividido em seis episódios, o filme tem lugar durante a Segunda
Guerra Mundial. No primeiro episódio, uma rapariga siciliana
trava amizade com um soldado americano. No segundo, um
napolitano rouba as botas a um soldado americano. No episódio
seguinte, uma prostituta de Roma encontra um soldado que tinha
conhecido no dia da Libertação e no quarto episódio uma
enfermeira inglesa deambula por Florença à procura de um amor
antigo. Um judeu e um protestante passam a noite num mosteiro
no quinto episódio e no último episódio as tropas americanas
são vítimas da ferocidade dos Nazis.
Alemanha
Ano Zero (1948)
O filme segue Edmund, um rapaz que vive na cidade de Berlim,
destruída pela Segunda Guerra Mundial. Para ajudar a sua
família, Edmund tem que pensar em várias formas de arranjar
comida e sobreviver. Um dia, encontra um antigo professor e
Edmund espera que ele o ajude de alguma forma. Porém, não é
isso que acontece.
O
Amor
(1948)
O filme é composto por dois segmentos. O primeiro, “Una voce
umana”, é inspirado na obra “La voix humaine” de Cocteau e
mostra uma chamada telefónica de uma mulher abandonada pelo seu
amante. O segundo segmento, “Il Miracolo”, conta a história de
uma agricultora, seduzida por um estranho. Quando engravida, a
mulher acredita que foi graças ao poder do Espírito Santo.
Stromboli (1950)
Karen é uma refugiada. De modo a poder ficar em Itália, ela
casa-se com um marinheiro da ilha de Stromboli, na Sicília.
Rapidamente, o facto de ambos terem mentalidades diferentes
cria conflitos entre o casal. Odiada pelos habitantes da ilha e
praticamente ignorada pelo marido, Karen procura forças para
sobreviver nesse contexto. Este é o filme que marca a primeira
colaboração entre Rossellini e Ingrid Bergman.
A
Máquina de Matar Pessoas Más (1952)
Graças ao que pensava ser uma revelação do seu santo protector,
o fotógrafo Celestino Esposito descobre que a sua câmara tem um
poder especial: um simples clique pode fazer desaparecer os
homens maus. Mais tarde, descobre que isso não acontecia devido
ao poder do santo mas sim ao próprio Diabo.
O
Medo (1954)
Irene Wagner, mulher do professor e cientista Albert Wagner,
tem mantido um caso amoroso com Erich Baumann, longe do
conhecimento do marido. No entanto, Irene é surpreendida quando
Johann Schultze, a ex-namorada de Erich, descobre o caso e
começa a chantageá-la.
Viagem
em Itália (1954)
Os Joyce são um casal inglês interpretado por Ingrid Bergman e
George Sanders que viaja para Itália com o objectivo de ver uma
propriedade perto de Nápoles, recentemente herdada. Rossellini
transforma a história de um casal aborrecido a viajar por
Itália numa história sobre crueldade e cinismo, à medida que o
casamento destas duas personagens se desintegra.
India,
Terra Mãe (1959)
"India Matri Bhumi" foi a obra que marcou a rutura de
Rossellini com o cinema narrativo tradicional, sendo o filme
percursor dos seus futuros trabalhos para a televisão. O filme
procura mostrar "outros modos de vida e de
pensamento", perscrutando as castas e as religiões que
formam o povo indiano, mas interrogando-as sempre em relação
com a natureza e com a dimensão espiritual subjacente.
Destaque-se a fórmula lapidar com que, à época, Godard afirmou
a sua importância: "India engloba o cinema mundial, tal
como as teorias de Riemann e Planck englobam a geometria e a
física clássicas". A invenção de um cinema
"total". Já Truffaut, defendeu "India Matri
Bhumi" como "um poema livre, fora do tempo e do espaço".
A
Força da Razão (1971)
Maio, 1971. Roberto Rossellini entrevista Salvador Allende
poucos meses antes das eleições que o elegeram Presidente do
Chile, onde apresenta o programa de governo à opinião pública
mundial, aproveitando da notoriedade do entrevistador e onde
demonstra consciência dos riscos que sabe que está a correr
também como ser humano, tendo em contra forças reacionárias
firmes em fazer de tudo para impedir que realize os seus
planos. Esta entrevista foi transmitida na televisão italiana
RAI pouco depois do assassínio do Presidente Allende.
ROBERTO
ROSSELLINI:
Nascido numa família burguesa de Roma, o pai de Roberto
Rossellini foi o fundador do primeiro cinema romani (um teatro
onde se podiam mostrar filmes), garantindo ao jovem Roberto um
passe de livre acesso, sendo que começou a frequentar o cinema
desde uma idade muito precoce. Quando o pai morreu, Roberto
Rossellini trabalhou como técnico de som em filmes, y durante
algum tempo trabalhou em várias áreas relacionadas com a
produção cinematográfica. Em 1938 realizou a sua primeira
curta-metragem, “Preludie à l’aprés-midi d’un faune”, depois do
cual trabalhou como assistente de Goffredo Alessandrini no
filme "Luciano Serra, pilota” um dos filmes italianos da
primeira metade do século com mais sucesso. Em 1940 trabalhou
como assistente de Francesco De Santis em “Uomini sul
fondo”. A primeira longa-metragem de Roberto Rossellini
foi “La Nave Bianca” de 1941, primeira também da chamada
Trilogia Fascista, junto com “Un pilota ritorna” (1942) e “Uomo
dalla Croce” (1943). A esta fase corresponde também a sua
amizade e colaboração com Federico Fellini e Aldo
Fabrizi. Após o fim do regime fascista em 1945, e após
unicamente dois meses da libertação de Roma, Rossellini já
estava em preparações para “Roma, cidade aberta”, com Fellini a
assistir no guião e Fabrizi no papel de sacerdote, filme
produzido pelo proprio Rossellini, obtendo a maior parte do
dinheiro a través de empréstimos e créditos. O filme foi um
sucesso imediato, e Rossellini começou assim a sua Trilogia
Neo-realista, cujo segundo filme foi “Paisà” (Libertação,
1946), filmada inteiramente com atores não profissionais, e o
terceiro, “Germania ano zero” (Alemanha, Ano Zero, 1947),
patrocinada por um produtor francês e filmada no setor francês
de Berlim. Como declarou numa entrevista, "para
criar realmente a personagem que tem na cabeça, é necessário
que o realizador entre numa batalha com o ator, na qual o
realizador normalmente acaba por se someter aos desejos do
ator. Como não quero estar a gastar as minhas energias numa
batalha como esta, só uso atores profissionais em certas
ocasiões”. Diz-se que uma das razões do sucesso de Rossellini
foi o facto que o realizador reescreveu os guiões de acordo com
os sentimentos e as histórias dos seus atores não
profissionais. Acentos regionais, dialetos e modos de vestir
vêm-se nos seus filmes da maneira em que eram realmente.Depois
da sua Trilogia Neo-Realista, Rossellini produziu duas
longas-metragens que hoje são consideradas como cinema
transicional: “L’Amore" (O Amor) com Anna Magnani e “La
macchina ammazzacattivi” (A Máchina de Matar Pessoas Más),
mostrando realidade e verdade.Em 1948, Rossellini recebe uma
carta de Ingrid Bergman onde se propõe para trabalhar com ele,
e assim começa umas das histórias de amor mais conhecidas do
mundo do cinema, com Ingrid Bergman e Roberto Rossellini no
topo da popularidade. Começaram a trabalhar juntos um ano mais
tarde em “Stromboli” e em “Europa ’51”. Em 1954 “Viaggio
in italia” (Viagem em Itália) completa a chamada Trilogia de Ingrid.
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