Carro vira moradia para trabalhadores do Vale do Silício
Carro vira moradia para trabalhadores do Vale do Silício
DA ASSOCIATED PRESS
19/11/2017
Na mesma afluente cidade suburbana em que o Google construiu sua
sede, Tes Saldana vive em um pequeno trailer, que estaciona na rua.
Ela admite que "não é uma situação de moradia muito
agradável", mas tampouco se pode dizer que é incomum.
Até que as autoridades ordenassem que eles fossem movidos, outros
trailers que serviam de moradia a pessoas que não conseguem pagar aluguel
ficavam estacionados na mesma rua em que Saldana parava seu veículo.
Os defensores dos moradores de rua e as autoridades municipais
dizem que é absurdo que, à sombra do boom na economia tecnológica –com jovens
milionários que não veem nada de estranho em pagar US$ 15 por um avocado grelhado
na madeira ou US$ 1.000 por um iPhone X–, milhares de famílias não consigam
arcar com uma casa.
Muitos dos moradores de rua têm empregos regulares, em muitos
casos servindo às pessoas cujos patrimônios astronômicos são o motivo para que
o preço da habitação tenha se tornado inacessível para tanta gente.
Saldana e seus três filhos adultos, que vivem com ela, procuraram
por acomodações menos rústicas, mas o valor dos aluguéis é de US$ 3.000 ou mais
por mês, e a maioria das casas disponíveis fica bem longe. Ela diz que faz mais
sentido continuar morando no trailer, perto de onde trabalham, e tentar
economizar para um futuro melhor, mesmo que as recentes medidas repressivas da
cidade a tenham feito perder sua vaga de estacionamento.
Tudo isso é parte de uma crise crescente na Costa Oeste dos EUA,
onde muitas cidades viram uma disparada no número de pessoas que vivem nas
ruas, nos dois últimos anos. Contagens realizadas em 2017 demonstram que
existem 168 mil moradores de rua nos Estados da Califórnia, do Oregon e de
Washington -20 mil a mais do que na contagem precedente, realizada dois anos
atrás.
O boom econômico, alimentado pelo setor de tecnologia, e décadas
de construção insuficiente causaram uma escassez histórica de habitações de
preço acessível.
Isso inverteu a visão tradicional dos moradores de rua como
desempregados. Entre eles há vendedores, encanadores, faxineiros –até mesmo
professores–, que trabalham, dormem onde podem e são sócios de academias de
ginástica para tomarem banho.
Não existe estimativa firme sobre o número de pessoas que vivem em
veículos no Vale do Silício, mas o problema é onipresente e aparente a todos
que veem trailers estacionados nas ruas da cidade.
Ellen Tara James-Penney, 54, professora-assistente na Universidade
Estadual de San Jose, estaciona seu velho Volvo em uma igreja que serve de
refúgio aos moradores de rua e come em seu refeitório.
Ela corrige os trabalhos escolares de seus alunos no carro. De
noite, reclina o assento do motorista e se prepara para dormir, com um de seus
cachorros, Hank, ao seu lado. O marido dela, Jim, alto demais para dormir no
carro, se deita do lado de fora em uma barraca, com o outro cachorro do casal,
Buddy.
Em resposta à crescente desigualdade de renda, sindicatos e
organizações de defesa dos direitos civis criaram a Sillicon Valley Rising, há
três anos. O grupo exige melhores salários para as pessoas de baixa renda que
fazem com que a região funcione.
Fonte: Aqui
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