Cinco fragmentos do meu “Livro de Eros” - Casimiro de Brito
Cinco fragmentos do meu “Livro de Eros”
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Amar-te é uma viagem marítima.
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Líquidos que se levantam. Líquidos que fervem sob a tua pele. Líquidos que me
inundam. Líquidos que me salvam do mundo. Líquidos que ora se acendem, ora se
derramam. Líquidos que me afogam. Líquidos que me transformam. Desço à sua
procura e depois elevo-me, mais leve. Mais denso. E volto a mergulhar em ti.
Insaciável me sinto.
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O amor não se prova, ele é, em si, uma prova. Uma prova sensível do incêndio
que irradia desde um centro que não sabemos onde nasce. O amor brota, o amor
respira como uma planta ou um animal que até então não conhecíamos. E cada amor
é um animal diferente de todos os outros.
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Um corpo não é apenas um corpo, um corpo é uma ilha desconhecida, uma boca
omnívora, uma floresta que permanece virgem, a cratera do meu desejo, um vaso
cheio de perfumes, um instrumento musical (se me sinto flauta sentes-te
violoncelo), o princípio da criação humana, um rio que se outra em cada
momento, a montanha que sobes quando julgas descer, um jardim imprevisível, a
matéria de que são feitos os sonhos, o chão renovado onde caio e o céu
evanescente para onde voo; um corpo é luz, um corpo é luz nascendo durante a
mais paciente das mortes, e amo-te sem saber se és sonho ou realidade, nem
quero saber. Um corpo é um enxame de climas, o mistério do seu passado, o
enigma do seu futuro. Mas o corpo, o corpo amado, é sobretudo o chão que vou
amar de novo, a carne viva do meu prazer, e dele vou retirar (e ele do meu) o
começo de uma vida nova e o gozo incandescente de viver nela como quem mergulha
num lago, que deflagra e me transforma noutras coisas, que às vezes me
transforma num deus. Um pobre deus que se dobra sobre o altar do teu corpo,
virgem sempre e cheio de memória.
4729
A tua nudez, a promessa de um paraíso.
Casimiro
de Brito
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