"Ausência" - Nuno Júdice
Ausência
A mulher deitada, a
mulher que se perdeu,
durante o sonho, e não
sabe que o caminho
estava indicado nos
seus olhos, procura o vazio
com a mão segura entre
lençol e cobertor,
como se nesse intervalo
houvesse ainda
uma saída para o
desejo. No sono em que
a maré da noite se
desfez num impulso
de névoa, os seus
lábios murmuraram
o nome que não tem
corpo; e em vão
esperaram o beijo que
os iria selar,
os dedos que se
afundariam no oceano
dos cabelos, a
respiração que
lhe daria o ritmo da
manhã. Por isso,
a mulher que acorda
pede à noite que não
a deixe sozinha, como
se o abraço antigo
se pudesse prolongar,
ou o sol
não trouxesse o dia
para junto dela.
Nuno
Júdice
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