O obsceno em cena
Divulgação
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Marlon Brando e Maria Schneider em cena do filme "O Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci
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O obsceno em cena
Manuel
da Costa
Pinto
21/02/2016
Não precisa tirar as crianças da
sala nem colocar o livro na prateleira mais alta da estante. "Cinema
Explícito", do sociólogo Rodrigo Gerace, é uma pesquisa sobre as
"Representações Cinematográficas do Sexo", conforme seu subtítulo.
Reproduz algumas imagens exemplares de filmes eróticos e pornográficos e faz um
levantamento minucioso e analítico dessa filmografia –podendo perfeitamente
servir de guia para onanistas e "voyeurs" metódicos.
Mas seu ponto forte são discussões
sobre o que distingue o erótico, o obsceno e o pornográfico, mostrando, a
partir de autores como o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) e a
ensaísta norte-americana Susan Sontag, as oscilações que o próprio sexo vai
sofrendo ao longo da história do cinema –de esfera pecaminosa e proibida a ato
transgressivo e político, passando pelas vanguardas e pela indústria do
entretenimento.
Da produção dos "stag
films" dos primórdios do cinema até a proliferação, a partir dos anos
1990, de fitas cassete e DVDs de sacanagem para consumo doméstico, Gerace
descreve uma evolução que leva de um voyeurismo passivo para uma identificação
maior do espectador com os atores em cena.
"O senso comum considera a
pornografia suja, negativa, explícita; enquanto o erotismo é visto sem
preconceito, é sublime, reflexivo, simulado, 'limpo', organizado", diz
Gerace. Na contramão do clichê, ele relaciona filmes que lançaram mão dos
recursos "sórdidos" da pornografia para produzir arte e, sobretudo,
para produzir uma reflexão sobre desejos e fetiches que não exclui a intenção
(comercial e ideológica) de excitar o espectador.Entre um ponto e outro, coloca uma
questão tanto estética quanto moral: o que distingue o erotismo do cinema
"mainstream" ou autoral (de diretores como Buñuel, Pasolini,
Bertolucci, Patrice Chéreau e Lars Von Trier) do sexo explícito que vemos no
pornô?
Por isso, um dos capítulos mais
interessantes é o que trata dos cinemas "underground" ("floração
tardia das vanguardas europeias") e "queer", cujas perversões
não apenas se equiparam às dos sites pornôs, mas transgridem convenções sobre o
grotesco e o extravagante, sacralizando-os como o faz Pedro Almodóvar.
Se o obsceno é aquilo que está
"fora de cena", que deve ser escondido, e se a pornografia é o
"discurso veiculador do obsceno", a distinção já não faz mais
sentido. O que faz sentido é algo implícito em "Cinema Explícito": ver
na compulsão pelo realismo da pornografia, na fissura pelo detalhe anatômico,
uma fragmentação da realidade e a busca não apenas do preenchimento imaginário
dos orifícios do corpo, mas de suprir uma falta, um vazio, que corresponde à
própria dinâmica amoral do desejo.
LIVRO CINEMA EXPLÍCITO
AUTOR: Rodrigo Gerace
EDITORA: Perspectiva/Sesc
(320 págs., R$ 72)
FONTE: Aqui
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