A Estratégia da Aranha, filme de Bernardo Bertolucci, baseia-se numa pequena ficção do escritor argentino Jorge Luís Borges – “Tema do Traidor e do Herói” -, texto que Borges situa num país oprimido e tenaz e que, na data em que o mesmo foi escrito (1944), ele “vislumbrou na Polônia, República de Veneza, algum Estado sul-americano ou balcânico”, para optar depois pela Irlanda. O episódio fala-nos de um rebelde, Fergus Kilpatrick, que, descoberto como traidor, se faz imolar ás mãos dos companheiros, para que a sua morte passe a ser olhada como um nefando crime cometido por algum desconhecido, o que apressaria o eclodir da revolta, que a partir daí passaria contar com seu heróico mártir. Partindo desta idéia, Bertolucci adapta-a às circunstâncias políticas e históricas da Itália e oferece-nos a sua perspectiva. Em lugar da Irlanda, a Itália; em vez de Fergus Kilpatrick, Athos Magnani.
Nesta digressão fílmica, Bertolucci constrói sua teia de aranha com os fios da verdade e da mentira, colocando a problemática do traidor e do herói como central, ao mesmo tempo que nos remete para a questão da identidade, do mito como sistema de legitimação e de significação, bem como das tradições inventadas e dos “lugares de memória” como mecanismos de manipulação. A temática tratada nos remete inevitavelmente para o interior da sala de aula, “locus”, por excelência, onde opera a memória histórica e lugar privilegiado onde se “difundem” os heróis e os traidores. Os discursos organizados dão à memória coletiva uma certa configuração a partir da definição do que será lembrado e de quais lembranças serão proibidas. Os conteúdos da História podem ser impedidos de contribuir para uma reflexão sobre o passado. Poderão ser esquecidos, em virtude da ação dos discursos organizados, ou não são visíveis, porque se encontram diluídos na memória coletiva. Que desafios se colocam ao professor no tratamento do diálogo entre memória e História? O que será preciso lembrar do processo histórico?
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