Michel Onfray e a contra-história da filosofia
Do Blog de Renato Pessoa
Michel Onfray - embora seja um pensador polêmico com seu ateísmo militante e seu empreendimento teórico que busca "revisar" a história da filosofia - ainda é visto com reservas por muitos intelectuais. Conhecido como "enfant terrible" no cenário do pensamento europeu das últimas décadas, divide opniões nada suscintas. De mero agitador à esperança das novas gerações, Onfray não passa mais despercebido. Onfray é contemporâneo de uma geração de pensadores - notadamente francesa - que buscavam, no cenário da crise das concepções da modernidade Ocidental, "restaurar" ou "revisar" a postura da filosofia no mundo. Na verdade, as décadas de 60 e 70 são bem agitadas para a filosofia francesa. M. Foucault, G. Deleuze, J.F. Lyotard, J. Derrida, entre outros, são responsáveis por uma reavaliação do que até aqui se buscou ententer por filosofia. continua...
É bem verdade que as últimas décadas do século XX necessitavam de uma reviravolta, não só no âmbito filosófico, mas social e estético. No que conserne propriamente a filosofia, noções como "filosofia da diferença", "desconstrução", "risoma" permeiam as produções filosóficas desde então. Não é dificil, pois, prever quais as posições diletantes dos pensadores da nova geração. O mérito de Onfray não está na posição teórica de seu ateísmo militante, ou "ateísmo positivo". Com posições que despensam, a priori, qualquer pretenção de originalidade, seu Tratado de Ateologia é um livro interessante, no entanto, mediano e com uma mensagem convencional. A real contribuição de Onfray, porém, se dá em outro âmbito. Com uma concepção batizada de "contra-história da filosofia", Onfray busca reanalizar a história da filosofia Ocidental que, para ele, foi cunhada sob uma égide excludente e carente de crítica. Para Onfray, assim, a história da filosofia deve ser repensada criticamente; até aqui o que determinou o modo de ser e pensar a história da filosofia foi uma visão idealista-platônica coadunada com um certo conservadorismo herdado das concepções do período filosófico cristão, como a patrística e a escolástica que privilegiam, principalmente, Platão e Aristóteles. Assim, muitos pensadores autênticos foram excluídos das grandes sistematizações dos compêndios de filosofia e, o que é pior, foram marginalizados. o projeto filosófico de Onfray busca refutar esse erro histórico. Privilegiando os "pensadores esquecidos" da tradição (tais como os Cínicos, os Cineraicos e os Libertinos) O jovem filosófo francês propõe um detalhado inventário dos filosófos esquecidos; monstrando, com efeito, a importância de cada "tendência" esquecida para a fundamentação da disciplina filosófica. Esse novo pensamento sobre antigos olhares filosóficos é fundamental para a consciência filosófica do século XXI. Estamos, sem dúvida, num novo limiar de uma consciência global nos diversos campos sociais. No que diz respeito à filosofia, às novas mentes filosofantes fica a liberdade (embora não menos confusa que outrora). precisamos, como disse Deleuze, de nomadologia, em vez de uma história. O empreendimento de Onfray é dividido em dez volumes. "As sabedorias antigas" primeiro volume da série, acaba de ser editado no Brasil, pela Martins Fontes. Esperaremos, pois, às demais edições. Mas que não assistamos passivos a este empreendimento já fundamental para a compreenção do que virá no campo da historiografia filosófica.
1 comentários:
Se ele desmitifica Freud, O que não diria Onfray de Bolsonaro...
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