quarta-feira, 15 de junho de 2011

A COMPREENSÃO DO PAPEL DA EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES OCIDENTAIS: um comentário a luz dos pensamentos de Durkheim, Dewey e Anísio Teixeira

Por:Fábio Machado Ruza
Mestrando do PPGE da UEMG


A idéia desse texto é a de procurar, brevemente, apresentar alguns indícios que possibilite ter uma certa compreensão dos modelos de educação e do seu papel exercido nas sociedades ocidentais dos séculos XIX, XX e início do XIX, para tanto, o farei a luz das concepções de Durkheim, Dewey e Anísio Teixeira. continua...


Ao estudar a obra de Durkheim (1978) percebe-se o quão revolucionária a mesma foi para a época em que foi escrita, pois esse autor enfatizou a dimensão social no estudo da sociedade, sem contudo desconsiderar a dimensão individual tão valorizada e estudada na sua época. Na concepção desse autor a educação consiste numa socialização metódica dos conteúdos para as novas gerações a fim de que seja transmitido à elas os conhecimentos adquiridos ao longo da história, pois, dessa forma, elas poderão criar novos saberes a partir dos conhecimentos construídos pelas gerações anteriores.
Assim, partindo dessa concepção, Durkheim (1978) propõe uma concepção diferente das definições idealistas da educação que “partiam do postulado de que há uma educação ideal, perfeita, apropriada a todos os homens, indistintamente” (p. 35). Dessa forma, Durkheim (1978) concebia que a educação deveria estar a serviço dos objetivos de cada sociedade, e, portanto, poderia variar no tempo e no espaço.
Essa concepção educacional durkheimiana instigou-me a traçar um paralelo entre os ideais de educação da sociedade do século XIX e da passagem do século XX para o XXI. A sociedade do século XIX valorizava uma educação voltada para a autonomia do indivíduo e para criação de um espírito científico, já a atual sociedade concepção um modelo educacional democrático e multicultural.  
Atualmente fazem criticas e procuram relativizar o caráter determinista de educação pensado por Durkheim (1978) ao se considerarem que a educação, talvez, possa estar também na contramão da atual ordem social devido a introdução de fatores, tais como,  a concepção política de seus agentes (professor, direção), a especificidade da escola e da comunidade, dentre outras. Contudo, tais críticas empreendidas a Durkheim não descartam a importância e a atualidade de suas idéias para a atual concepção de sociedade e educação.
Já Dewey (2007) formulou um modelo de educação para a sociedade da primeira metade do século XX. O objetivo de sua educação era de habilitar os indivíduos para darem continuidade a sua formação e educação, ou seja, a educação deveria facultar no indivíduo a capacidade de desenvolver um raciocínio lógico e um espírito crítico, através de um método de ensino que privilegie o aprender-fazer e que parte do conhecimento e do cotidiano do aluno. Contudo, tal objetivo só seria realizado na medida em que houvesse uma sociedade realmente democrática.
 Entretanto, para Dewey (2007) a democracia não é uma materialidade (eleições, liberdade de expressão, de credo e de concepção política), mas ela se constitui num constante processo de construção social que tem como a principal causa de inconcretude os dualismos da sociedade moderna, dentre eles, individuo e sociedade, trabalho e lazer, cultura erudita e preparação profissional, cuja fonte reside na atual divisão social em classes. Tal dualismo decorrente da divisão de classes do sistema capitalista impossibilita que haja comunicação e acordo entre os indivíduos para se criar uma sociedade verdadeiramente democrática.
Abrindo um parêntese na discussão: quais serão as possíveis causas das dissensões causadas pela divisão de classes propostas pelo capitalismo? A princípio é porque uma pequena parcela da população, mas que detém um grande poder econômico e político ganha muito dinheiro e aumenta seu poder com a manutenção da desigualdade social provenientes de tal divisão de classes, além disso, tal grupo através de alguns artifícios procura alienar a população através do “medo do comunismo” e da violência simbóliva realizada pela classe dominante ao impor sua cultura como superior as demais.
Retomando a discussão, por sua vez, Anísio Teixeira (2007) muito influenciado pelas concepções de Dewey procura criar um modelo de escola progressista no Brasil. Para ele uma sociedade que seja reflexiva[1] necessita de uma escola que seja por excelência progressista cuja finalidade será a de
educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares (p. 49).

Dessa forma, o modelo de escola formulado por Teixeira (2007) se encontra próximo do ideal de escola empreendido por Dewey (2007), além disso, ambos propõem que o método de ensino privilegie os ensinamentos da parte para o todo, que conteúdos sejam direcionados para a aquisição de conhecimento significativos para a vida do aluno e que a aprendizagem seja dê a partir do aprender-fazer, isto é, valorize as experiências dos alunos, pois são nestas atividades que eles passam a interiorizar e resignificar os conhecimentos ensinados na escola.
Portanto, a partir das leituras, creio que o que aproxima que ao mesmo tempo difere a concepção de Anísio Teixeira para a de Dewey é que Anísio Teixeira procurou adaptar a concepção de Dewey na realidade brasileira, já o principal ponto de aproximação da concepção de Durkheim com as outras duas concepções é a de os modelos educacionais variam no decorrer das épocas, isto ocorre ora porque esta a serviço das sociedades, ora de alguns grupos dominantes ou até mesmo se posiciona contra muitos fatores dominantes como  por exemplo a concepção de escola multicultural.

Referências
DEWEY, John. Democracia e educação. Capítulos Essenciais. São Paulo: Atica, 2007.

DURKHEIM, Emile. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade. São Paulo: Editorada da UNESP, 1991.

TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação: a escola progressiva ou a transformação da escola. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2007.



[1] Anísio Teixeira ao conceber a sociedade como reflexiva acaba antecipando algumas considerações feitas por Giddens (1991) ao considerar a atual conjuntura sócio-histórica é marcada pela reflexividade do conhecimento, ou seja, um conhecimento que é a todo instante reformulado a luz das práticas sociais e que, por isto, coloca a autoridade do autoridade do conhecimento cientifico no banco dos réus.

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