sábado, 17 de junho de 2023

Retorno da contra-ofensiva ucraniana

 





Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, a tão esperada ofensiva em larga escala na Ucrânia começou no dia 4 de junho, quando simultaneamente em 5 setores da frente sul de Donetsk, as 23ª e 31ª brigadas mecanizadas das reservas estratégicas das Forças Armadas da Ucrânia, apoiada por outras unidades e subunidades militares, avançou bravamente, mas foi severamente mutilada antes de chegar às linhas russas e se recuperou em desordem. Para ler o texto de Dmitry Orlov clique aqui


Leia "Rainer Rupp: Péssimas perspectivas para a Ucrânia" clicando aqui


Leia "Pepe Escobar: O novo mapa russo para o mundo multipolar" clicando aqui


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Carta às potências nucleares: Desistimos do futuro?



Senhores líderes,


Pensem nas crianças, mudas telepáticas. Pensem nas meninas cegas inexatas.


Escrevo aos senhores com esses pedidos por ter lido, nesta semana, que seus governos gastaram estúpidos US$ 82,9 bilhões em armas nucleares apenas em 2022. Isso representa US$ 157.664 gastos por minuto.


Com esse dinheiro, o mundo poderia ter bancado a vacinação de dois bilhões de pessoas contra a covid-19 ou fornecido água potável e saneamento básico a 1,275 bilhão de pessoas por um ano. O valor ainda seria suficiente para atender a mais de 250 milhões de pessoas que vivem em crises humanitárias.


O que foi destinado para armar o mundo com a ignorância da destruição total é quatro vezes o que meu país —o Brasil— investe a cada ano em educação.


Vou ser muito sincero aqui. Se o plano é desistir do futuro, quero ser avisado imediatamente. Tenho muito ainda a fazer, coisas a dizer, canções a cantar, lugares a visitar, sonecas a tirar, amores a amar.


Senhores líderes,


Pensem nas mulheres, nas rotas alteradas.


Será que foram cegos por aquela luz que escureceu Hiroshima? Ou foram afetados pela cômoda perda de memória que tipicamente assola os vencedores?


Após a explosão, foi um silêncio criminoso que se abateu sobre crianças, mulheres, idosos, homens e animais. Não o silêncio da paz.


Aquele ato, seguido pela impunidade completa, abriu as cortinas uma nova era na história: a da guerra perpétua.


Como ousam chamar de paz um mundo que conta com um inventário de 12.512 ogivas nucleares? Como ousam falar em segurança quando cerca de 9.576 delas estavam em estoques militares para uso potencial?


Diriam seus lobistas e generais de prontidão: essas armas não existem para serem usadas. É sua existência que garante a segurança e a paz. Um otimismo perverso ou simplesmente hipócritas?


Nos últimos meses, diante da guerra na Ucrânia, voltamos a ouvir abertamente sobre a possibilidade de que essas armas possam ser usadas. Mais uma vez, ouviríamos vozes alertando que isso não passava de uma estratégia e de uma ameaça vazia.


Como sabem?


Nos tratados assinados nas últimas décadas, vocês fecharam um pacto: ninguém mais teria o direito de ter essa arma. E, em troca, vocês se comprometiam em promover um desarmamento.


Mais uma mentira.


Como, então, querem que eu acredite que nunca haverá um irresponsável capaz de apertar o botão diante de uma crise ou de uma desinformação, brincando de deus?


Certa vez, um jornalista questionou o então primeiro-ministro britânico, Harold Macmillan, sobre qual seria o maior desafio de um estadista. E ele respondeu: "os eventos, querido garoto, os eventos".


Senhores líderes,


Para os próximos 15 anos, a indústria de armamentos tem contratos com governos para a produção de armas nucleares no valor de pelo menos US$ 278,6 bilhões. De forma hipócrita, esses fabricantes gastaram milhões financiando o trabalho de acadêmicos e especialistas que que, por sua vez, influenciam as políticas governamentais e as atitudes do público em relação às armas nucleares.


Só não falam de paz.


Com um mundo onde o déficit de confiança é total, escrevo esta carta para pedir que pensem nas feridas, como rosas cálidas.


Hannah Arendt chegou a dizer que uma das ameaças da existência de bombas nucleares era a de chacoalhar o próprio significado do conceito de coragem. A coragem como disposição de cuidar do mundo, da sociedade. Afinal, com qual finalidade nos arriscaremos se a aniquilação é uma opção real?


"Ao colocar em risco a sobrevivência da humanidade e não apenas a vida individual ou a de um povo inteiro", conclui Arendt, "a guerra moderna está prestes a transformar o homem mortal individual em um membro consciente da raça humana, de cuja imortalidade ele precisa ter certeza para ser corajoso e por cuja sobrevivência ele deve se preocupar mais do que qualquer outra coisa".


Assim, senhores líderes, não se esqueçam da rosa da rosa. Da rosa de Hiroshima. A rosa hereditária, radioativa, estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a antirrosa atômica. Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada.


A embriaguez do poder nos conduz a uma situação na qual temos, em suas mãos, a capacidade de destruir a civilização tal qual a conhecemos.


Ninguém jamais vencerá uma guerra nuclear. Ninguém sobreviverá a uma guerra nuclear.


Nem a coragem.


Saudações,


Jamil Chade


 

Fonte: UOL, 17/06/2023

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