Especialista em política comparada e populismos, o
cientista político chileno Cristóbal Rovira Kaltwasser acredita que Bolsonaro
possa ser reeleito "não por seus méritos, mas porque a oposição segue
debilitada".
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Ideologia de gênero
Drauzio
Varella*
Folha de S.
Paulo, 15/09/2019
Nos dias de
hoje, demagogos se apropriaram do preconceito social
·
Mal
começamos a entender a diversidade sexual humana, vozes medievais emergiram das
catacumbas para .
Suponho
que se refiram a algum conjunto de
ideias reunidas por gente imoral, para convencer crianças e
adolescentes a adotar
comportamentos homossexuais. Será que devo a heterossexualidade à
inexistência dessa malfadada ideologia, nos meus tempos escolares? Caso
existisse, eu estaria casado com homem?
Para
contextualizar a coluna de hoje, leitor, não falarei de aspectos
comportamentais ou culturais, resumirei apenas alguns fenômenos biológicos
ligados à sexualidade, uma vez que a diferenciação sexual é fenômeno de
altíssima complexidade em que estão envolvidos fatores hormonais, genéticos e
celulares.
Até
a quinta semana de gestação, o embrião é assexuado. Só a partir da sexta semana
é que as gônadas começam a se diferenciar. Se houver desenvolvimento de
ovários, eles secretarão predominantemente estrogênios; se forem testículos, a
produção predominante será de testosterona. Digo predominante, porque pelo
resto da vida homens também produzirão estrogênios; e mulheres, testosterona,
embora em pequenas quantidades.
Por
outro lado, o conceito de que o sexo seria definido pela presença ou ausência
do cromossomo Y é uma simplificação. Muitas vezes, os cromossomos sexuais não
se distribuem igualmente entre as células do embrião. Da desigualdade, resultam
homens com células XX em alguns órgãos e mulheres com cromossomos XY.
Talvez
você não saiba, caríssima leitora, que fetos masculinos liberam células-tronco
XY que cruzarão a placenta e se alojarão até no cérebro de suas mães, para
sempre.
Quando
a genética é levada em conta, as fronteiras sexuais ficam ainda mais nebulosas.
Há dezenas de genes envolvidos na anatomia e na fisiologia sexual. A
multiplicidade de interações entre os dominantes e os recessivos torna mais
complexa a diversidade sexual existente entre homens, bem como entre mulheres,
e faz surgir áreas de intersecção que tornam problemático para algumas pessoas
definir sua sexualidade dentro dos limites impostos pela ordem social.
Como
deveríamos então definir o sexo de cada indivíduo? Pelo binário dos cromossomos
XX e XY? Pelos genes, pelos hormônios ou pela anatomia genital? O que fazer
quando essas características se contrapõem?
Segundo
Eric
Vilain,
diretor do Centro de Biologia Baseada em Gênero, na Universidade da Califórnia:
“Na falta de parâmetros biológicos, se você quiser saber o sexo de uma pessoa,
o melhor é perguntar para ela”.
Esses
conhecimentos passam ao
largo de grande parte da população. Para muitos, a homossexualidade
é uma opção de gente sem vergonha. Repetem esse absurdo porque são ignorantes,
sem a menor noção das raízes biológicas e comportamentais da sexualidade.
O
argumento mais elaborado que conseguem usar como justificativa é o de que a
homossexualidade não é fenômeno natural. Outra
estupidez: relações homossexuais têm sido documentadas pelos
etologistas em todas as espécies de mamíferos, e até nas aves, únicos
dinossauros que sobreviveram à catástrofe de 62 milhões de anos atrás.
Assim
como a heterossexualidade, a homossexualidade se impõe. Não é nem pode ser
questão de escolha. É possível controlar o comportamento, mas o desejo sexual é
água morro abaixo.
Nos
dias assustadores em que vivemos, em que que vomitam com ares de sabedoria,
vários demagogos se apropriaram do preconceito social, para criar a tal
“ideologia de gênero”, com o pretexto de defender a integridade da família
brasileira. Partem do princípio de que assim ganharão mais votos, uma vez que
os iletrados são maioria num país de baixa escolaridade, infelizmente.
Mandar
recolher livros e disputar a primazia do combate a essa ideologia cretina e sem
sentido é apenas uma demonstração de arrogância preconceituosa tão a gosto dos
pobres de espírito.
*Médico
cancerologista, autor de “Estação Carandiru”
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