"Conta-me" - Mia Couto
Conta-me
Conta-me
Conta-me o que se calou ainda.
Conta-me a memória, os sorrisos,
a doçura.
Põe a música certa a tocar e conta-me.
Conta-me o sentido, o racionalizado.
Conta-me das histórias,
dos equilibrismos.
Faz-me um desenho, uma pintura.
Diz-me como estava o céu,
como brilhavam as estrelas,
como já se ia embora Vénus
e a aurora raiava o negro
de rosas e amarelos.
Diz-me como foi o dia,
aquece-me desse mesmo sol.
Conta-me das metamorfoses,
dos crescimentos,
dos pés já doridos,
dos sonhos acordados.
Conta-me.
Não esqueças nem um pormenor,
um pensamento, um fio.
Conta-me.
Preenche cada espaço,
soletra cada letra.
Não te enganes nos ondes,
nos quandos, nos porquês.
Conta-me.
Recorda, agora, memória.
Conta-me tudo o que já começo a esquecer
Conta-me o que se calou ainda.
Conta-me a memória, os sorrisos,
a doçura.
Põe a música certa a tocar e conta-me.
Conta-me o sentido, o racionalizado.
Conta-me das histórias,
dos equilibrismos.
Faz-me um desenho, uma pintura.
Diz-me como estava o céu,
como brilhavam as estrelas,
como já se ia embora Vénus
e a aurora raiava o negro
de rosas e amarelos.
Diz-me como foi o dia,
aquece-me desse mesmo sol.
Conta-me das metamorfoses,
dos crescimentos,
dos pés já doridos,
dos sonhos acordados.
Conta-me.
Não esqueças nem um pormenor,
um pensamento, um fio.
Conta-me.
Preenche cada espaço,
soletra cada letra.
Não te enganes nos ondes,
nos quandos, nos porquês.
Conta-me.
Recorda, agora, memória.
Conta-me tudo o que já começo a esquecer
Mia Couto
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