sábado, 5 de agosto de 2017

Fragmentos melancólicos do “Livro de Eros” - Casimiro de Brito

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Fragmentos melancólicos do “Livro de Eros”

340
Vivendo agora, alto e pleno e frágil e fundo dentro de ti, sou eterno. E como dói essa coisa que, mais do que nunca, existe: o nada, o vazio, a passagem transformada em aparente eternidade.

343
Antes do amor um banho quente para que as nádegas e as coxas e os seios se possam oferecer vibrantes e dilatados como uma esponja. Depois do amor um banho frio se não foi possível desgastar todo o desejo do corpo amante. Mas se ficaram saciados que não se lavem para que o perfume do amor seja mantido o mais tempo possível. Como se ele ou ela, tendo partido, ficassem ainda colados no corpo que fica.

344
Ela sabe. A mulher sabe. As flores sabem. Mais nenhum ninguém sabe coisa alguma. Ela sabe e não quer saber. Por isso, caída no chão a que pertence, ela voa nos altos céus, e derrama-se. Água, sangue e depois lágrimas.

345
Amador — e matador — fui sempre vencido pelos seios. Desde os primeiros, onde adormecia regalado mas depois acabava por arranhar (para deixar a minha marca) até aos de Izumi, que parecem não existir, e subitamente se transformam em dois mamilos cor de crisântemo onde uma inesperada Primavera rebenta se os mordo ou os acaricio com a arte sedosa da pequena glande.

347
O obsceno é amigo ou inimigo do desejo? O que é obsceno para um não é obsceno para outro. O desejo de quem ama é uma obra de arte.

350
Amar-te é deitar-me nas ervas e encontrar uma estrela que não existia.

352
Declaração de amor: declara-se o que já se sabe (a paixão antes da ação). Mas também o que se deseja, sem se saber muito bem o que é: deseja-se o outro mas também o mistério que o outro alimenta. 


Casimiro de Brito

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