sexta-feira, 23 de junho de 2017

"Amo-te. Basta-me um pássaro, uma árvore ..." - Casimiro de Brito

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Amo-te. Basta-me um pássaro, uma árvore
para me transportar ao jardim
de ti — um livro, uma palavra, o peso
do silêncio
para me levarem ao poço de ti,
aos teus olhos que ofuscam
o cristal da manhã; à tua boca
aproximando-se da minha pele
como se regressasse a casa.
Cantar-te é desfazer o nevoeiro da minha vida,
desfiar uma chama, ardendo lenta,
que não se via. E basta-me um vinho
ou a tua língua,
ou a memória dela
para que em mim disparem águas
trémulas — ainda são — por isso
quando te amo
sou um pouco essa montanha que tece com o vento
uma combustão muito lenta muito paciente
como se todo o fulgor da vida
se concentrasse nos vales e nos rios do teu corpo.


Casimiro de Brito

2 comentários:

Lúcia Oliveira 23 de junho de 2017 às 21:23  

Lindo

Pri 27 de junho de 2017 às 19:50  

Lindo mesmo! Como sempre o Miguel da show ao selecionar as poesias!

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