MUDANÇAS DE PESO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, Sr. João Batista Araújo e Oliveira?
MUDANÇAS
DE PESO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, Sr. João Batista Araújo e Oliveira?
A
propósito do artigo publicado no jornal O Estadão com o título “Educação, um
desafio olímpico”, 8/08/2016.
Cecilia
M. A. Goulart/Universidade Federal Fluminense/RJ
Mudanças
de peso na Educação são as que promovem novas formas críticas de viver a
cidadania. Mudanças de peso são aquelas em que coletivamente as pessoas se
movimentam no conhecimento de outras visões de mundo, outras compreensões de
sua inserção social. Mudanças em que a história de cada um repercute na vida e
história dos outros, fortalecendo a todos. Mudanças de peso na Educação são
aquelas em que palavras ganham novos sentidos, escritas e lidas em novas
linguagens. Aprendizagens que provocam renascimentos, novas relações e ações.
Chegar ao ler e escrever “unindo pedaços de palavras”, “unindo argila e
orvalho”, “tristeza e pão”, “cambão e beija-flor”. E assim unindo “a própria
vida”, descobrindo “num clarão que o mundo é seu também, que o seu trabalho não
é a pena paga por ser homem, mas o modo de amar – e de ajudar o mundo a ser
melhor” (trechos entre aspas deste parágrafo retirados da poesia Canção para
os fonemas da alegria, de Thiago de Mello, apud Freire, 1978*)
Poderíamos
rebater seus argumentos dizendo que “no ralo da câmara de horrores” deveria ser
jogado seu programa Alfa&Beto, mas não entendemos a divergência assim.
Entendemos que o Brasil que o senhor quer não é o mesmo que nós queremos.
Entendemos que o currículo deva se constituir em norte político-pedagógico para
o ensino, sem descaracterizar as diferenças formadoras da nação brasileira, nem
obscurecer a sua pluralidade cultural e social. Não o imaginamos como um plano
burocrata, regulador das mentes dos profissionais da Educação e dos alunos, sob
o argumento da necessidade de homogeneizar o ensino no país. Entendemos,
entretanto, a lógica de alguns técnicos pensando em facilitar a produção de
material didático e a elaboração de provas e testes de amplo espectro. Mas dela
discordamos. A sociedade é viva e movediça; as pessoas, vivas e imaginativas.
As pessoas têm sido ouvidas, professores e especialistas de todas as áreas. Só
não foi atrás deste trio elétrico quem já morreu. Os programas do MEC e a base
nacional têm suscitado inúmeros debates, há muita controvérsia, muita ebulição.
Elaborar projetos pedagógicos e colocá-los em ação são movimentos sérios e
complexos. Pensar nestes movimentos na dimensão de um país como o Brasil
envolve um conjunto de fatores que não são somente pedagógicos e didáticos. São
fatores de amplitude social que garantam possibilidades de locomoção,
alimentação, saneamento, cultura – são muitas as ramificações da boa Educação
de um povo. Assustam-nos as suas muitas certezas e verdades, além de suas
críticas fortes e superficiais, sem evidências de fatos (“... milhões jogados
no ralo, nenhum progresso, nenhum resultado”; “... apoio para fechar essa
câmara de horrores que foi a farra dos programas do MEC”). Críticas levianas?
Os programas têm autores dos quais podemos discordar; atacar com ferro e fogo
tem outro nome.
A
“combalida educação brasileira”, como caracterizada pelo senhor, precisa
decidir suas prioridades, sim; antes, entretanto, precisa se corporificar como
prioridade nacional, e não ficar ao sabor de ventos que não saem da porta do
MEC, anunciando receitas promissoras para alfabetizar o país. Se o MEC lhe
parece um “armazém de secos e molhados” é porque ao longo das décadas sempre se
revelou uma galinha dos ovos de ouro a que interesses privados de vários tipos
a acossam para obter vantagens também promissoras, economicamente - os ventos,
às vezes vendavais, tufões.
Incertezas,
acertos e equívocos fazem parte do processo de aprender, ensinar, formar
pessoas. Não temos medo de dúvidas. A responsabilidade ética, política e
profissional nos obriga, professores, gestores e formadores de professores, a
definir princípios para o trabalho cotidiano e a nos capacitar permanentemente,
compreendendo não somente a função social da Educação, da escola, dos
conteúdos, da avaliação; compreendendo também quem são nossos alunos, como são,
o que sabem, o que desejam, onde vivem e como vivem, além de muitos outros
conhecimentos importantes, se considerarmos a dimensão humana da formação de
professores, alunos e sociedade como um todo.
*In: Freire, P. 1978. Educação como prática da liberdade,
8a edição. RJ: Paz e Terra. O poema foi originalmente publicado em 1965.
0 comentários:
Postar um comentário