Independentemente de ideologias, o Sol e a Lua existem, gente boa!
Estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana
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Independentemente de ideologias, o Sol e a Lua existem,
gente boa!
Pasquale Cipro Neto
25/08/2016
Na semana passada, falei de uma declaração da ministra Cármen Lúcia a respeito da
questão "presidente" x "presidenta". Supus que fosse
desnecessário dizer que a "decisão" sobre a "existência" da
palavra "presidenta" não depende de ideologia, mas enganei-me.
Nos "comentários" (note as
aspas, por favor), algumas pessoas simplesmente ignoraram as provas documentais
(o registro nas edições antigas e nas atualíssimas dos nossos mais importantes
dicionários e do "Vocabulário Ortográfico", da Academia Brasileira de
Letras).
Nada convence os que odeiam Dilma e
sua trupe de que a questão linguística nada tem que ver com a questão ideológica,
política, partidária etc. Uma "comentarista" chegou a dizer que tem
dó dos meus alunos. Certamente ela queria que eu tivesse dito que a existência
ou não do termo "presidenta" depende do credo político: no mundo
petralha, o termo existe; no mundo tucanalha, não. Cara leitora, caros
leitores, um fato técnico não tem ideologia.
Ou será que Drummond, o grande
Carlos Drummond de Andrade, já antevia a chegada ao mundo de Dilma Rousseff
(14/12/1947), a posterior chegada dela à presidência da República e ainda a
obsessão de Dilma pelo emprego de "presidenta"?
Explico: como bem lembrou o eminente
professor Renato Janine Ribeiro, na histórica tradução que Drummond fez do
célebre romance "As Relações Perigosas" ("Les Liaisons
Dangereuses"), de Pierre Choderlos de Laclos, aparece a expressão "a
presidenta de Tourvel". Essa tradução foi publicada em 1947. Petralha que
era (já em 1947!), Drummond preparou o terreno para Dilma...
Peço licença a Caetano Veloso, que,
na genial "Podres Poderes", diz assim: "Será que esta minha
estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?".
Sim, sinto-me um estúpido ao ter de dizer (mais uma vez) que o comentário da
ministra Cármen Lúcia foi tecnicamente equivocado. Usar como argumento a
inexistência de "estudanta" para justificar a inexistência de
"presidenta" é como dizer que, se não existe o inicial do mês (ou da
semana), não pode existir o final do mês (ou da semana). PODE EXISTIR, SIM, ou
melhor, EXISTE!!!
E por que não se usa "inicial
do mês" se se usa "final do mês"? Por uma razão bem simples:
porque não se usa. Como já afirmei N vezes, nem todos os fatos da língua são
cartesianos. "Final do mês" e "fim do mês" são expressões
equivalentes.
Na internet e nas redes
antissociais, circulam essas e outras bobagens ("inicial do mês",
"estudanta" etc.). Os argumentos técnicos são ignorados; quando
alguém se atreve a usá-los, tem de aturar "especialistas" (note as
aspas, por favor).
As pessoas têm todo o direito de
gostar ou de não gostar de certa palavra ou expressão; só não podem inventar
argumentos infundados. Eu mesmo disse que me parece infantil a obsessão por
"presidenta". Embora o termo TENHA REGISTRO HÁ MUITO TEMPO (e o
registro decorre do uso), o seu emprego, correto, é minoritário, por isso causa
estranheza.
Pelo jeito, se um petralha disser a
um tucanalha que a Lua existe, o tucanalha dirá com toda a convicção que a Lua
não existe, mesmo que o petralha mostre dados técnicos, fotos etc. Por sua vez,
o tucanalha dirá ao petralha que o Sol existe, e aí será a vez do petralha, que
dirá aos quatro ventos que o Sol é uma miragem. Triste país. É isso.
FONTE: Aqui
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