DOSSIER NELSON MANDELA
(...) No decorrer de longas e atrozes horas de solidão, empurrado à beira da loucura, ele redescobrirá o essencial, aquilo que gira em torno do silêncio e do detalhe. Tudo para ele falará de novo: uma formiga que corre para não sei onde, a semente enterrada que morre e ressuscita dando a ilusão de um jardim, um pedaço de coisa, não importa qual; o silêncio dos dias sombrios que parecem não se mover, o tempo que se estende indefinidamente; a lentidão dos dias e o frio das noites; a fala rara; o mundo exterior do qual não se ouvem senão murmúrios, o abismo que foi Robben Island, e os traços da penitenciária agora na sua face esculpida pela dor, em seus olhos apertados pela luz do sol refletida no quartzo, nas suas lágrimas que não vertem mais, a poeira sobre a face transformada em espectro fantasmático e em seus pulmões, na ponta dos pés, e acima de tudo este sorriso alegre e brilhante, esta postura altiva, ereta, de pé, o punho cerrado, pronto a abraçar novamente o mundo e fazer sussurrar a tempestade.
Privado de quase tudo, ele lutará passo a passo para não ceder o resto de humanidade que seus carcereiros queriam a todo custo extrair dele e exibir como o último troféu. Reduzido a viver com quase nada, ele aprende a economizar tudo, mas também a cultivar um profundo desapego das coisas da vida profana, inclusive os prazeres da sexualidade. Até o ponto em que, prisioneiro de fato, confinado entre pouco mais que dois muros, ele não é, contudo, escravo de ninguém.
Homem de carne e osso, Mandela viveu no entanto próximo ao abismo. Ele penetrou na noite da vida, o mais perto da escuridão, à procura de uma ideia, de como aprender a viver livre da raça e da dominação do mesmo nome. Suas escolhas o levaram à beira do precipício. Ele fascinou o mundo por ter saído vivo do país das sombras, jorrando vigor ao anoitecer de um século envelhecido e que não soube mais sonhar.(...)
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Para ler o texto "Chora por Mandela, mas acha um absurdo pobre querer os mesmos direitos" de Leonardo Sakamoto clique aqui
Para ler o texto "Magnanimidade!" de John Carlin clique aqui
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