MÍDIA & PRECONCEITO: Imprensa e escola omissas
Deu no jornal, nos dias 30 de abril e 1º de maio: uma aluna dá uma facada em
colega em escola de ensino médio na periferia de São Paulo. Só que não deu bem
assim. Na Globo, pernambucanaesfaqueia colega em São Paulo. “Atingido
pela menor, o aluno de 16 anos sofreu...” Ela é menor, ele é aluno. O Diário
do Grande ABC deu a manchete “Adolescente vítima de Bulling (sic)
esfaqueia colega na escola”, informando que ela havia chegado há pouco tempo de
Pernambuco e que “o adolescente tirava sarro dela por conta do sotaque”. O
Jornal do Brasil também sugere o motivo do crime na manchete: “Alegando
bullying, aluna esfaqueia colega dentro de escola em SP”. Também foi um
dos únicos a anunciar que a escola programou “uma reunião na unidade de ensino
para alertar aos pais sobre casos de violência e bullying”.
Infelizmente, nenhum dos dois veículos menciona que ela é negra, um dos dois
motivos do bullying.
A Folha de S.Paulo repete a manchete, “Adolescente esfaqueia colega dentro de escola em Ribeirão Pires (SP)”, sem usar o “bullying”, indicando que o motivo seria apenas ela se sentir “ofendida” pela perseguição dele “por ter sotaque nordestino”. O Diário de Pernambuco, naturalmente, deu manchetes de “aluna pernambucana”. O Diário foi o único veículo para quem a mãe da vítima/ agressora, residente em Ribeirão Pires, concordou em dar informações [áudio disponível aqui]. A família viera para a região metropolitana de São Paulo há apenas três meses. A mãe se surpreendera com a facilidade com que a jovem fez amizade, várias colegas vinham regularmente à casa: “Eu fazia bolinho pra elas”. E conta que o rapaz vinha há tempos perseguindo ela, chamava-a constantemente de “nega recalcada”, escondia apostila e trabalhos da jovem, além de um álbum de fotos que ela levara para a escola. E, cada vez que ela falava algo, “tirava sarro” do sotaque “de nordestina”.
Ela é “menor”, “pernambucana”, “jovem negra” ou, na melhor das hipóteses, “adolescente”. Ele é “a vítima”, “o colega”, “menino (!) [que] leva facada no peito”. Nada ficamos sabendo sobre o rapaz: por que não o “jovem paulista branco”?
Para ler o texto completo de Tina Amado clique aqui
A Folha de S.Paulo repete a manchete, “Adolescente esfaqueia colega dentro de escola em Ribeirão Pires (SP)”, sem usar o “bullying”, indicando que o motivo seria apenas ela se sentir “ofendida” pela perseguição dele “por ter sotaque nordestino”. O Diário de Pernambuco, naturalmente, deu manchetes de “aluna pernambucana”. O Diário foi o único veículo para quem a mãe da vítima/ agressora, residente em Ribeirão Pires, concordou em dar informações [áudio disponível aqui]. A família viera para a região metropolitana de São Paulo há apenas três meses. A mãe se surpreendera com a facilidade com que a jovem fez amizade, várias colegas vinham regularmente à casa: “Eu fazia bolinho pra elas”. E conta que o rapaz vinha há tempos perseguindo ela, chamava-a constantemente de “nega recalcada”, escondia apostila e trabalhos da jovem, além de um álbum de fotos que ela levara para a escola. E, cada vez que ela falava algo, “tirava sarro” do sotaque “de nordestina”.
Ela é “menor”, “pernambucana”, “jovem negra” ou, na melhor das hipóteses, “adolescente”. Ele é “a vítima”, “o colega”, “menino (!) [que] leva facada no peito”. Nada ficamos sabendo sobre o rapaz: por que não o “jovem paulista branco”?
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