"Uma serpente com a boca nos joelhos..." - Casimiro de Brito
Relva, tentáculos. Austera mas compassiva
abres-te lentamente, primeiro a boca e depois
a concha brilhante, sempre paulatina, sempre
dadivosa mas, subitamente,
enquanto os meus dedos divagavam
pelas anémonas e flores do teu jardim aquático,
saltas-me para cima, invades-me com os teus seios
e dedos e línguas e fincas as unhas e os dentes fincas
no meu peito e no ventre e ajustas a vagina
ao meu sabre
e é então que, de mulher, te transformas em serpente
e eu já não sei onde estou, se num lago se
numa nuvem, se na relva se no mármore,
porque toda te desfazes no ofício órfico
e telúrico de me desfazeres. E de nós dois
nasce um rio, não sei se indefeso se
agressivo, porque nós, naquela batalha,
já éramos outro,
outro que não sabia quem era. E
subitamente, uma líquida aurora! Uma serpente
com a boca nos joelhos.
Casimiro de Brito
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