"Bolsonaro não é caso clínico, mas criminal", afirma psiquiatra em entrevista
"O que ele está fazendo são crimes. Crimes contra a Constituição, crimes contra os direitos, são crimes contra a humanidade. Deveriam ser tratados como criminosos. Não como doentes".
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Carta a um jovem brasileiro
Rogério Cezar de Cerqueira Leite*
29/05/2019
Eu gostaria
de escrever-lhe uma carta sobre poesia, embora sem o talento do alemão
Rainer Maria Rilke, sobre a importância da literatura, das artes, do
conhecimento; enfim, sobre tudo o que enriquece a humanidade. Mas eis que
nossos líderes agridem tudo que alicerça a cultura de um povo, tal seja a
filosofia, a sociologia, a história.
Eu queria escrever-lhe sobre a dádiva da natureza ao brasileiro, sobre as
nossas matas, os nossos rios, a nossa fauna e a nossa rica e bela
biodiversidade. Pois bem, nossos dirigentes não apenas corrompem as
providências para amenizar as inexoráveis e trágicas consequências do
aquecimento global como também incentivam o desmatamento e a poluição da atmosfera.
Eu queria falar-lhe, jovem brasileiro, da dignidade do trabalho e da
necessidade de conhecimento para enfrentar a dinâmica implacável do progresso
tecnológico. Entretanto, esse novo governo asfixia nossas universidades
com cortes
de verbas e obtusa perseguição.
Eu queria
falar-lhe de ciência e tecnologia, da consequente industrialização do nosso
país e dos benefícios sociais e econômicos que adviriam de investimentos em
pesquisas. Mas esses nossos governantes continuam a desindustrialização
começada nos governos Collor e FHC, cortando recursos para ciência, tecnologia
e formação pós-graduada, sem o que não haverá industrialização possível já em
futuro próximo.
Eu queria escrever-lhe sobre o valor da cidadania, da liberdade, sobre a
decência do homem de bem. Porém, “esses arremedos de déspotas” que presidem
sobre esta nação liberam a posse
de armas, cooptam e protegem milicianos, homenageiam extorsionários e
torturadores, estimulam a violência.
Eu gostaria de poder falar-lhe sobre nosso país, sobre nossa história, nossa
arte, nossos escritores, nossa música, nossas conquistas. Mas não posso. Nosso
país se curva aos interesses imperialistas dos EUA.
1.
Eu queria
falar-lhe do ideal de justiça, da solidariedade. Contudo, só vejo ostentação,
narcisismo. Juízes vivendo em palácios “nababescos”, servidos a lagostas,
pagas com o suor do trabalhador brasileiro. O que um juiz do Supremo come de
lagosta e bebe de vinho importado, diariamente em uma única refeição, equivale
ao que come por mês uma família que vive com salário mínimo. E, ao contrário de
suas excelências, o cidadão brasileiro paga por suas refeições. Eu pensava em
conversarmos sobre seu futuro, seus sonhos. E olho para nossos congressistas,
supostos guardiões da cidadania e de seu porvir. E só ostentam escandalosa
cupidez.
Confesso que eu queria inculcar-lhe, jovem brasileiro, uma certa compulsão por
justiça social, um certo interesse pelo próximo e pelo distante, um pouco de
civilidade enfim. Mas seria um esforço perdido, tendo em vista a dominação
intelectual e ideológica desse governo por um farsante, obsceno e fascista, uma
espécie de Rasputin de bordel.
Eu gostaria de encontrar alguma palavra de alento para apaziguá-lo. Eu não
queria ser cínico ou parecer desalentado, derrotado. Seria talvez bom se eu
pudesse fingir, mentir um pouco. Mas não. Só posso pedir-lhe que me perdoe, e a
todos aqueles das gerações que precederam a sua, pelo que lhe subtraíram e
talvez também pelo que lhe ensinaram.
*Rogério Cezar de
Cerqueira Leite
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