OS EUS E AS MULTIDÕES (III) - Fernando Rios
OS EUS E AS MULTIDÕES (III)*
eu, eus, multidão, multidões
sou polivalente, sou eu, sou multidão
também sei que nasci para semente de mim
aqui começa, germina, termina, recomeça uma geração
posso até viver só, mas sem solidão e com calma
e quero que quem chegar
alargue-me em corpo e alma
quem sou eu na multidão, quem é a multidão sem eu?
quantos eus fazem a multidão se desfazer de mim
e me ignorar que sou sujeito com começo meio e fim
e que naquele meio preciso ser mais eu
cada vez mais perto de mim
neste mercado multidão, sou sujeito ou objeto?
sujeito abjeto? abjeto sujeito? sujeito a que?
um palindrômico internauta nomeia meus dizeres
me viro pelo avesso para revigorar entranhas
elas me fazem objeto, elas me fazem abjeto
mas essa visceral estação de tratamento de esgotos
alimenta um cérebro ideal
uma estação de tratamento de ideias e ideais
somos todos bilhares de todas as cores
de todos os tamanhos no mesmo ósseo esqueleto
cabeça tronco membros e um utópico horizonte
sete palmos pra cima, infinito
sete palmos pra baixo, precipício
e quem está no meio vive que certeza?
sou isto, isso e mais aquilo
somos todos
porém, quem somos na verdade?
precisamos urgentemente saber
e ter a reposta na ponta da língua
porque se sabemos de nós, somos
porque se sei de mim, sou
quantos eus sujeitos são objetos?
e quantos abjetos destroem a vida:
“abaixo o prazer do gay”
“abaixo o prazer do negro”
“abaixo o prazer dos prazeres”
e assim, a multidão objeto/abjeta
se perde em si mesma
a vida é fria, é morta, é quente, é escaldante
tem seu périplo
e ao final, quando chega perto
eu, sujeito sujeito,
escolho conviver, ver para crer
e dizer:
- que multidão é essa
que não sabe plantar adubar colher seu próprio deleite?
a multidão solitária não sonha
ela balbucia
ela abomina o cio
e seu silêncio
seus eus solitários em silêncios
se sentenciam à morte
porque não sabem que viver é uma arte
que se cria e se recria a cada dia
fernando rios
*Poema gentilmente cedido pelo autor (04/01/2019)
eu, eus, multidão, multidões
sou polivalente, sou eu, sou multidão
também sei que nasci para semente de mim
aqui começa, germina, termina, recomeça uma geração
posso até viver só, mas sem solidão e com calma
e quero que quem chegar
alargue-me em corpo e alma
quem sou eu na multidão, quem é a multidão sem eu?
quantos eus fazem a multidão se desfazer de mim
e me ignorar que sou sujeito com começo meio e fim
e que naquele meio preciso ser mais eu
cada vez mais perto de mim
neste mercado multidão, sou sujeito ou objeto?
sujeito abjeto? abjeto sujeito? sujeito a que?
um palindrômico internauta nomeia meus dizeres
me viro pelo avesso para revigorar entranhas
elas me fazem objeto, elas me fazem abjeto
mas essa visceral estação de tratamento de esgotos
alimenta um cérebro ideal
uma estação de tratamento de ideias e ideais
somos todos bilhares de todas as cores
de todos os tamanhos no mesmo ósseo esqueleto
cabeça tronco membros e um utópico horizonte
sete palmos pra cima, infinito
sete palmos pra baixo, precipício
e quem está no meio vive que certeza?
sou isto, isso e mais aquilo
somos todos
porém, quem somos na verdade?
precisamos urgentemente saber
e ter a reposta na ponta da língua
porque se sabemos de nós, somos
porque se sei de mim, sou
quantos eus sujeitos são objetos?
e quantos abjetos destroem a vida:
“abaixo o prazer do gay”
“abaixo o prazer do negro”
“abaixo o prazer dos prazeres”
e assim, a multidão objeto/abjeta
se perde em si mesma
a vida é fria, é morta, é quente, é escaldante
tem seu périplo
e ao final, quando chega perto
eu, sujeito sujeito,
escolho conviver, ver para crer
e dizer:
- que multidão é essa
que não sabe plantar adubar colher seu próprio deleite?
a multidão solitária não sonha
ela balbucia
ela abomina o cio
e seu silêncio
seus eus solitários em silêncios
se sentenciam à morte
porque não sabem que viver é uma arte
que se cria e se recria a cada dia
fernando rios
*Poema gentilmente cedido pelo autor (04/01/2019)
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