"Dou em primeira mão..." - Casimiro de Brito
Dou em primeira mão
o retrato de quando for velho,
eu que já comecei
a descer. Desfaço-me em terra
antes de comê-la, uns dias lágrimas,
outros dias cerejas negras, raízes
luminosas. Terra
deserta. As trevas
na boca do abismo
ainda brilham, ainda me comovem.
Como se tivesse um olho sagrado
vejo pela primeira vez o que já vi
mil vezes: sombras desfazendo-se
no azul mais puro. Se já comecei
a descer
não me causa dano o seu brilho; ilumina-me
a voz cansada
que não cessa de cantar o outro lado
da música, as suas rugas, o seu musgo
cheio de pavor. A lanterna delicada da idade
vela
e não há nada para sofrer, nada
para lamentar. Desço
e renasço
no corpo amado. A terra
que foi deserta
não cessa de brilhar.
o retrato de quando for velho,
eu que já comecei
a descer. Desfaço-me em terra
antes de comê-la, uns dias lágrimas,
outros dias cerejas negras, raízes
luminosas. Terra
deserta. As trevas
na boca do abismo
ainda brilham, ainda me comovem.
Como se tivesse um olho sagrado
vejo pela primeira vez o que já vi
mil vezes: sombras desfazendo-se
no azul mais puro. Se já comecei
a descer
não me causa dano o seu brilho; ilumina-me
a voz cansada
que não cessa de cantar o outro lado
da música, as suas rugas, o seu musgo
cheio de pavor. A lanterna delicada da idade
vela
e não há nada para sofrer, nada
para lamentar. Desço
e renasço
no corpo amado. A terra
que foi deserta
não cessa de brilhar.
Casimiro de Brito
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