sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

"OS EUS E AS MULTIDÕES" (1) - Fernando Rios

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OS EUS E AS MULTIDÕES (I)*

eu e eus

quem sou eu?  na verdade, quem somos nós?
por que tanta fúria sobre o mesmo osso
no ofício de sustentar tantas e diferentes epidermes?

mas alguns dizem:
-       “só eu sei onde está o meu nariz e o seu também
e não nos cheiramos bem!”

por que sou assim onipotente, prepotente

que só vejo e olho pra mim?

quando sou branco, que nuances do branco?
quando sou negro, que nuances do negro?
quando sou amarelo, que nuances do amarelo?
quando sou vermelho, que nuances do vermelho?
e por que e para que tanta cor?

e quando a minha cor termina

me escondo ou me apresento:

- opressor ou oprimido?

o que faço comigo diz respeito a mim
mas onde está o outro que me dá sentido?

sou ávido de vida
mas que avidez é essa
que prefere um mundo sem vida
sem pensar diferente
sem viver diferente
sem gozar diferente?

minha vida me pergunta:
-       viveu o suficiente?
mas por que se apresenta tão carente?

o que me faz um sujeito original?
é preciso ser diferente?
por que não pode ser tudo igual
sendo cada qual cada qual?

quando me olho quero me ver
quero me esclarecer
sou mais um, um marginal?
apenas um nefasto animal?

que espécie me frequenta,
sapiens ou neandertal?
eles se mataram, se comeram
e nos deixaram assim
ávidos de poder
ávidos de marfim
ávidos de dólares
ávidos de tudo enfim
e sempre em busca do fio da meada

fernando rios
*Poema gentilmente cedido pelo autor.(04/01/2019)

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