"Escritura" - Octavio Paz
Escritura
Quando sobre o papel a pena escreve,
a qualquer hora solitária,
quem a guia?
A quem escreve o que escreve por mim,
margem feita de lábios e de sonho,
colina quieta, golfo,
ombro para esquecer o mundo para sempre?
Quando sobre o papel a pena escreve,
a qualquer hora solitária,
quem a guia?
A quem escreve o que escreve por mim,
margem feita de lábios e de sonho,
colina quieta, golfo,
ombro para esquecer o mundo para sempre?
Alguém escreve em mim, move-me a mão,
escolhe uma palavra, se detém,
pende entre mar azul e monte verde.
Com um ardor gelado
contempla o que escrevo.
A tudo queima, fogo justiceiro.
Mas o juiz também é justiçado
e ao condenar-me se condena:
não escreve a ninguém, a ninguém chama,
escreve-se a si mesmo, em si se esquece,
e se resgata, e volta a ser eu mesmo.
escolhe uma palavra, se detém,
pende entre mar azul e monte verde.
Com um ardor gelado
contempla o que escrevo.
A tudo queima, fogo justiceiro.
Mas o juiz também é justiçado
e ao condenar-me se condena:
não escreve a ninguém, a ninguém chama,
escreve-se a si mesmo, em si se esquece,
e se resgata, e volta a ser eu mesmo.
Octavio Paz
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