"Olho para um quadro de Ingres..." - Casimiro de Brito
"Oriental Women"
- Jean Auguste Dominique Ingres
Onde ele imagina um harém (pois nunca esteve
em nenhum) o que vejo é água, água multicor,
água tão densa que mais parece um cardume
de flores e, perante tantas imagens de mulheres,
o que sinto é semelhante ao que sinto
quando entro numa só delas, e sinto a mulher amada
como se fosse um harém. Amá-la
e ser amado por ela é uma travessia na barca
de Caronte. É o regresso ao antes de todas as coisas.
Amá-la é como se recuperasse o limbo materno,
como se visitasse uma cortesã sagrada.
Entro no reino da aceitação e da passagem,
no segredo das coisas ocultas que está por detrás
de palavras antigas, por exemplo harâm, igual a tabu
e halâl, o que é permitido — e daí o mistério,
que parece semelhante ao que sinto perante o nu
feminino, essa visão límpida e obscura
da imagem ancestral.
Casimiro de Brito
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