BRASIL: A esperança vencerá o medo (28)
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Entender os conceitos por
trás desses fatos está ao alcance de qualquer adulto alfabetizado
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"Ministro não pode se dar ao luxo de fingir que não há mudanças climáticas"
Reinaldo José Lopes*
Entender os conceitos por
trás desses fatos está ao alcance de qualquer adulto alfabetizado
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16/12/2018
Quando o que está em jogo são perspectivas puramente filosóficas
ou religiosas, o agnosticismo me parece uma posição muito decente (ainda que
não seja a minha). O agnóstico, aquele sujeito que diz, por exemplo, “não tenho
como verificar se Deus existe ou não, então nem acredito nem desacredito no
Senhor”, merece respeito.
Entretanto, aferrar-se ao
agnosticismo quando há abundância de evidências acerca do tema supostamente
controverso deixa de ser prudência filosófica e vira preguiça de pensar e agir,
podendo até ser desastroso. Afinal, ninguém em sã consciência sai por aí
dizendo que é agnóstico quanto à lei da gravidade. “Não sei se eu vou mesmo
cair do alto do prédio se eu pular. Isso aí é problema para os físicos
resolverem” não é algo que a gente costuma ouvir da boca de gente normal.
Pode ser que eu tenha
entendido errado, mas parece que foi mais ou menos isso o que o futuro ministro
do Meio Ambiente, o advogado Ricardo Salles (Novo), andou dizendo a colegas
desta Folha logo depois de ser anunciado como próximo titular da pasta.
Sobre as mudanças
climáticas, o novo ministro do Meio Ambiente disse que “a discussão se há ou
não há aquecimento global é secundária”; mais tarde, em vídeo no qual se fez
acompanhar de lideranças ruralistas, comentou que até acreditava na existência
das tais mudanças, mas que não sabia “com certeza” se elas são provocadas pelo
homem ou se seriam naturais e que o Brasil deveria “deixar essa questão para os
acadêmicos”.
Bem, o papel de ministros é
(ou costumava ser —tem horas que eu me esqueço de que estamos na tal “Nova
Era”) formular e implementar políticas públicas. E políticas públicas, em
geral, são implementadas com base no que a gente sabe sobre a realidade do
país e do mundo.
Decorre do singelo
raciocínio acima um negócio revolucionário: é obrigação de um ministro saber se
alguma coisa da alçada dele “é ou não é”.
E, veja só, em ambos os
casos citados por Salles como desculpa para se refestelar no agnosticismo
paralisante, os pobres “acadêmicos”—cientistas, gente que vive de testar
hipóteses com base em dados, e não em achismo ou ideologia— já sabem a resposta
faz tempo.
No que diz respeito ao
desmatamento, uma reportagem do meu colega FabianoMaisonnave mostrou que sim, sabemos que
proporção do desmate no segundo estado que mais devasta a floresta, Mato Grosso,
acontece fora da legislação: 85%.
Temos imagens de satélite,
monitoramento em tempo real e cadastros de imóveis rurais que permitiriam obter
a informação com relativa facilidade.
Quanto às mudanças
climáticas, era só fazer um levantamento da literatura científica dos últimos
30 anos.
Praticamente não há
pesquisa publicada em periódicos com revisão por pares (ou seja, na qual
cientistas que não são os autores do estudo fazem o controle de qualidade)
questionando o óbvio papel do ser humano na atual onda de aquecimento do
planeta.
Entender, ao menos
conceitualmente, a ciência por trás desses fatos está ao alcance de qualquer
adulto alfabetizado. (Se até jornalistas conseguem, você também consegue,
ministro!)
Não há justificativa moral para escolher a inação.
Não há justificativa moral para escolher a inação.
*Reinaldo José Lopes
Fonte: Aqui
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