Sebastião Salgado prevê extinção da fotografia nas próximas décadas
Sebastião Salgado prevê extinção da fotografia nas próximas
décadas
DA AFP - 28/10/2016
Sebastião Salgado apareceu mancando
e de muletas. O fotógrafo brasileiro rompeu o menisco em sua última viagem à
Amazônia, onde retratou comunidades indígenas há três anos. Mas, vestido de
gala para receber um prêmio, senta-se e dispara: "a fotografia está
acabando".
Aos 72 anos, um dos melhores
fotógrafos dos séculos 20 e 21 se sente tão desconectado da tecnologia, dos
celulares e aplicativos como o Instagram quanto as tribos que está registrando
nos últimos meses.
"Eu não sei nem ligar um
computador", confessa com um sorriso.
O homem que imortalizou a pobreza e
a natureza selvagem em todo o mundo continua trabalhando como fazia antes: com
negativos e impressões, que revê e toca. Mas agora produz suas fotos com uma
câmera digital.
"Eu me adaptei um pouco, como
os dinossauros antes de morrer", brinca diante de um pequeno grupo de
jornalistas na entrega do prêmio Personalidade, concedido pela Câmara de
Comércio França-Brasil, no Rio de Janeiro.
Mas Sebastião Salgado não tem
Instagram nem "nada" disso. "Eu não gosto. Sei que os jovens
gostam, mas eu não consigo", diz.
Às vezes, explica ele com sua voz
arrastada, olha o celular de seus sobrinhos e fica horrorizado ao ver como os
aplicativos para compartilhar fotos acabam servindo para "exibir toda a
sua vida, para que todos a vejam".
"Olha, às vezes tem fotos
interessantes, mas para fotografar você tem que ter uma boa câmera com uma
lente adaptada, tem que ter uma série de condições, a luz... não pode ser um
processo automatizado", explica.
o
IMAGEM X FOTOGRAFIA
Autor de livros antológicos, como
"Trabalhadores" (1996), "Outras Américas" (1999),
"Êxodos" (2000) e "Gênesis" (2013), Salgado acredita que a
fotografia tem que passar pelo papel.
"A fotografia está acabando
porque o que vemos no celular não é a fotografia. A fotografia precisa se
materializar, precisa ser impressa, vista, tocada, como quando os pais faziam
antes com os álbuns de fotos de seus filhos", afirma. "Estamos em um
processo de eliminação da fotografia. Hoje temos imagens, mas não fotografias",
insiste.
Salgado recorda como nas filmagens
do documentário premiado sobre a sua vida, "O Sal da Terra" (2014), a
câmera que Wim Wenders e seu filho utilizaram era a mesma que ele utilizava em
seus trabalhos. "Uma câmera não é mais uma câmera 100% fotográfica",
lamenta.
Filho de uma geração analógica e
praticamente artesanal, o brasileiro se atreve a prever uma data de expiração
para a fotografia: "Eu não acredito que a fotografia vá viver mais do que
20 ou 30 anos. Vamos passar para outra coisa".
Mas antes que sua profecia se
cumpra, Salgado tenta contribuir com seu grão de areia. Sua mais recente
obsessão: buscar as raízes de seu país nas comunidades indígenas da floresta
amazônica para que os mais jovens se lembrem através de exposições em escolas e
universidades.
"O Brasil é um dos poucos
países do mundo que pode conviver com sua pré-história!", diz emocionado o
artista, arqueando as espessas sobrancelhas brancas.
Embora por um tempo tenha ficado
deprimido com o que via através das lentes e acreditasse que não havia
esperança para o homem, Salgado seguiu adiante encontrando refúgio na natureza
com o seu projeto ecológico Instituto Terra.
Agora, a meio caminho entre Paris e
Brasil, está animado com a Amazônia. Nem sua idade, nem o menisco rompido
conseguem pará-lo.
"Depois disso, não sei o que
vou fazer". Salgado faz uma pausa e sorri: "Se o outro joelho não
quebrar...".
FONTE:
Aqui
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