sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Maria Machamba: "Os burgueses de Calais"


Os burgueses de Calais
  
A sério,
a olhar o que os ouvidos escutam,
eu não consigo sorrir, neste tempo.

A exímia oratória da urna
anda por aí de pé em riste,
e há orientações de superior interesse,
no sentido de se impor.
Parece que para todo o sempre e arredores,
a dignidade ao espelho, mesmo com encenação,
Dignifica.

Anda lá!

Ai, povo meu, existe alguém mais belo do que eu?

Parece que a alma da Europa
se perdeu num rating qualquer,
e que em prol ou pole da União
serão debitados juros alarves à ética.
Que ninguém alimente o próximo,
Que ninguém conceda nas suas dores,
E ninguém, mas mesmo ninguém, lhe dê ocupação,
Que ninguém acolha o estrangeiro no seu jardim,
Que ninguém ilumine as sombras do seu rosto
Que ninguém comungue na alma do outro,
Ou sequer se atreva,
A dar réstia de esperança,
Tudo isto, sob pena de severos positivismos legais.
Parece que os puros não se insurgiram, ainda,
com toda a sua perseverança,
desobedecendo à dica,
iludidos de medo e desconfiança.

Parece que os tratados
se querem sob revisão,
e que é urgente transformar o conceito
de asilado.
Será terrorista
ainda antes da próxima época.

Neste tempo, ou noutro, parece que
à falta de amor,
há quem deva só experimentar a realidade.

Parece que nas ruas de Calais, afinal,
Liberté, Igualité, Fraternité
são iluminações fodidas.

Parece que o túnel, será apenas um dunk canal,
Há corações, tantos, que precisam de sorrir.
E god is just saving the Queen.

Mas parece, talvez seja só ilusão minha,
Que, qual centelha criminosa,
o mar não aguentou
e rebentou em lágrimas.
Nem sequer notícia,
no imediato,

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