BILLIE HOLIDAY: Strange Fruit
Acaba de
sair em português o livro "Strange Fruit, Billie Holiday e a biografia de uma
canção" (2012) de David Margolick e tradução de José Rubens
Siqueira, Editora Cosac Naify.
"Strange Fruit" é uma canção cuja
versão mais famosa é a de Billie Holiday. Condenando o racismo americano,
especialmente o linchamento de afro-americanos que ocorreu principalmente no
sul dos Estados Unidos mas também aconteceu em outras regiões do país. A versão
de Holiday foi colocada na lista do Hall da Fama do Grammy em 1978. Também foi
incluída na lista de canções do século da Recording
Industry of America e da National
Endowment for the Arts.
"Strange
Fruit" foi composta como um poema, escrito por Abel Meerpol (um professor
judeu de colégio do Bronx), sobre o linchamento de dois homens negros. Ele a
publicou sob o pseudônimo de Lewis Allan. Meeropol e sua esposa adotaram, em
1957, Robert e Michael, filhos de Julius e Ethel Rosenberg, acusados e
condenados por espionagem e executados pelo governo dos Estados Unidos.
Meeropol escreveu "Strange Fruit" para expressar seu horror com os
linchamentos, possivelmente após ter visto a fotografia de Lawrence Beitler do
linchamento de Thomas Ship e Abram Smith em Marion, Indiana, ocorrido em 7 de
agosto de 1930.
Holiday
cantou a música pela primeira vez no Cafe Society em 1939. Ela disse que
cantá-la fazia-a ter medo de retaliações. Holiday mais tarde disse que as
imagens de "Strange Fruit" lembravam-na de seu pai, isto fez com que
ela continuasse a cantar a música. A canção tornou-se parte regular das
apresentações ao vivo de Holiday. Holiday se aproximou de sua gravadora, a Columbia
Records, para gravar a canção. Mas a Columbia, temendo a repercussão das lojas
de discos no sul, assim como a possível reação negativa de rádios afiliadas à
CBS, recusou-se a gravar a canção. Mesmo o grande produtor da Columbia, John
Hammond, recusou-se também. Decepcionada, ela procurou seu amigo Milt Gabler
(tio do comediante Billy Crystal), cuja selo, a Commodore Records, gravava
músicas de jazz alternativo. Holi day cantou para ele "Strange Fruit"
a cappella e a canção comoveu Gabler ao
ponto de fazê-lo chorar. Em 1939, Gabler fez um arranjo especial com a Vocalion
Records para gravar e distribuir a canção e a Columbia permitiu a realização de
uma sessão fora do contrato para poder gravar a música. "Strange
Fruit" foi altamente considerada. Na época, tornou-se o maior sucesso de
vendas de Billie Holiday. Em sua autobiografia, Lady Sings the Blues, Holiday sugeriu que ela, junto
com Lewis Allan, seu acompanhante Sonny White e o arranjador Danny Mendelsohn,
musicaram o poema.
Barney
Josephson reconheceu o impacto da canção e insistiu para que Holiday encerrasse
suas apresentações com ela. Quando a canção estava para começar, os garçons
paravam de servir as mesas, todas as luzes se apagavam e um único foco de luz
iluminava Holiday no palco. Durante a introdução musical, Holiday ficava com
seus olhos fechados, como se evocando uma oração. Numerosos outros cantores
também fizeram versões da canção. Em outubro de 1939, Samuel Grafton do The New
York Post assim descreveu "Strange Fruit": "Se a ira dos explorados
já foi além do suportável no Sul, agora há a sua Marseillaise."
Em dezembro
de 1999, a revista Time deu a "Strange Fruit" o título de canção do
Século. Em 2002, a Biblioteca do Congresso colocou a canção dentre as 50 que
seriam adicionadas ao National Recording Registry.
Abaixo a letra de "Strange Fruit":
“As
árvores sulistas dão uma fruta estranha.
Sangue
nas folhas, sangue nas raízes.
Corpos
negros balançam à brisa sulista,
Frutas
esquisitas penduradas nos álamos.
Uma cena
pastoril do sul galante:
Olhos
esbugalhados, boca torta,
Um suave
aroma de magnólia, fresco e doce:
e, de
repente, o cheiro de carne queimada.
Eis uma
fruta para os urubus beliscarem,
Para a
chuva enrugar, para o vento secar,
Para
apodrecer ao sol, para a árvore deixar cair,
Eis uma
estranha, amarga colheita”.
Ouça a interpretação de"Strange
Fruit" na voz de Billie Holiday clicando aqui
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