ENTREVISTA/RICARDO ABRAMOVAY: O modo pós-capitalista de estar no mundo
Num momento em que a humanidade debate-se diante de novos impasses – agora provocados pela crença absoluta na razão, pela exploração da natureza sem limites e por um sistema econômico que subordina todas as relações sociais ao dinheiro e ao lucro –, Ricardo Abramovay sustenta que a saída já existe. Ela está presente em valores e lógicas que, embora contra-hegemônicos, são adotados por um número expressivo de pessoas e se alastram de forma crescente pelas próprias relações de produção.
Não se trata, esclarece o entrevistado, de um retorno ao “socialismo real”. Ninguém mais defende o controle direto, pelos Estados, dos meios de produção e das decisões sobre o que produzir e como trocar. A crítica e a alternativa são de outra natureza. Provavelmente, muito mais profundas, porque questionam as relações sociais e simbólicas associadas ao sistema – não apenas o grupo ou classe social que está em seu comando.
Abramovay – que acaba de lançar um novo livro, “Muito além da Economia Verde“ [ler resenha] – aponta exemplos concretos. Vão ficando para trás as noções que associavam sucesso pessoal ao acúmulo de bens materiais. Um dos focos desta superação é o automóvel, mercadoria-símbolo do capitalismo. De que vale possuí-lo, se ele já não oferece mobilidade alguma, nos centros urbanos? Na desconstrução de seu fetiche, emergem reivindicações como o direito à cidade, ou o transporte coletivo de qualidade; e mesmo a valorização da bicicleta e das caminhadas, há pouco desqualificadas como arcaicas.
Coloca-se em xeque a competição, um valor central na lógica dominante. Cultiva-se a colaboração e o cooperativismo – que, graças à internet, já não estão presos ao território, à família e ao local. Pratica-se o trabalho compartilhado a distância: por exemplo, nas comunidades de software livre. Seus integrantes não pensam em restringir o uso dos conhecimentos que desenvolvem. Sabem que ele se enriquecerá cada vez mais, enquanto for compartilhado. Por isso, preferem mantê-lo aberto e disponível aos demais. E este modo de agir, que produz resultados notáveis, é acatado e contratado por grandes empresas do setor, como IBM e Google.
A estas práticas, corresponde uma nova visão de democracia – que vai muito além do voto, do partido ou da representação. Busca-se participar permanentemente da vida pública: em movimentos, redes e ONGs voltados a todos os tipos de causas. Exige-se das empresas padrões de comportamento adequados a objetivos sociais. Questiona-se seu suposto “direito” de buscar apenas resultados econômicos.
Onde chegará este questionamento, que coloca em xeque os próprios valores do sistema? Abramovay não está preocupado com rótulos. Como o Galileu de Brecht, enxerga que “o tempo antigo acabou, e começou um novo”. Quer valorizar um outro modo de estar no mundo; criar condições para que se propague, demonstrando como são obsoletas as velhas relações – mas também possível e indispensável a mudança.
Leia a entrevista de Ricardo Abramovay aqui
Não se trata, esclarece o entrevistado, de um retorno ao “socialismo real”. Ninguém mais defende o controle direto, pelos Estados, dos meios de produção e das decisões sobre o que produzir e como trocar. A crítica e a alternativa são de outra natureza. Provavelmente, muito mais profundas, porque questionam as relações sociais e simbólicas associadas ao sistema – não apenas o grupo ou classe social que está em seu comando.
Abramovay – que acaba de lançar um novo livro, “Muito além da Economia Verde“ [ler resenha] – aponta exemplos concretos. Vão ficando para trás as noções que associavam sucesso pessoal ao acúmulo de bens materiais. Um dos focos desta superação é o automóvel, mercadoria-símbolo do capitalismo. De que vale possuí-lo, se ele já não oferece mobilidade alguma, nos centros urbanos? Na desconstrução de seu fetiche, emergem reivindicações como o direito à cidade, ou o transporte coletivo de qualidade; e mesmo a valorização da bicicleta e das caminhadas, há pouco desqualificadas como arcaicas.
Coloca-se em xeque a competição, um valor central na lógica dominante. Cultiva-se a colaboração e o cooperativismo – que, graças à internet, já não estão presos ao território, à família e ao local. Pratica-se o trabalho compartilhado a distância: por exemplo, nas comunidades de software livre. Seus integrantes não pensam em restringir o uso dos conhecimentos que desenvolvem. Sabem que ele se enriquecerá cada vez mais, enquanto for compartilhado. Por isso, preferem mantê-lo aberto e disponível aos demais. E este modo de agir, que produz resultados notáveis, é acatado e contratado por grandes empresas do setor, como IBM e Google.
A estas práticas, corresponde uma nova visão de democracia – que vai muito além do voto, do partido ou da representação. Busca-se participar permanentemente da vida pública: em movimentos, redes e ONGs voltados a todos os tipos de causas. Exige-se das empresas padrões de comportamento adequados a objetivos sociais. Questiona-se seu suposto “direito” de buscar apenas resultados econômicos.
Onde chegará este questionamento, que coloca em xeque os próprios valores do sistema? Abramovay não está preocupado com rótulos. Como o Galileu de Brecht, enxerga que “o tempo antigo acabou, e começou um novo”. Quer valorizar um outro modo de estar no mundo; criar condições para que se propague, demonstrando como são obsoletas as velhas relações – mas também possível e indispensável a mudança.
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