sábado, 26 de julho de 2025

Evento "Versos & Canções: O Som do Poema"


No dia 10 de julho de 2025 teve lugar em Cachoeiro de Itapimirim o Evento "Versos & canções: O Som do poema". A idealizaçao e a direção geral do projeto foi da responsabilidade de Therezinha Fassarela e Adilson Dilem.

Texto de apresentação: Roberto de Oliveira

Desde os primórdios, poesia e música caminham de mãos dadas. Antes mesmo de se fixar no papel, o poema era som — canto entoado em rituais, lamento em forma de melodia, celebração em ritmo e palavra. A voz do poeta foi, desde sempre, também a voz do músico. A métrica, o compasso, a pausa — são pulsações partilhadas por essas duas artes irmãs.

Mallarmé, o poeta da sugestão e do mistério, afirmou certa vez: "A música antes de tudo." E ele sabia o que dizia. Porque todo poema guarda dentro de si uma partitura secreta, uma cadência que convida o leitor — ou o ouvinte — a mergulhar em sua musicalidade interna. A poesia, quando lida com o ouvido atento, revela-se canção. E a canção, quando ouvida com sensibilidade, revela-se poema.

Este projeto nasce desse entrelaçamento. "Versos & Canções: o som do poema" propõe um passeio por essa zona de encontro entre verso e melodia, palavra e acorde. Aqui, lemos e declamamos poesias como se fossem canções e cantamos poemas que foram musicados por vários compositores.  Assim, tudo se mistura, se entrelaça, se reencontra.

Porque, como escreveu Sérgio Sampaio, nosso conterrâneo de alma sensível: "Um livro de poesia na gaveta / não adianta nada / lugar de poesia é na calçada."

E é justamente isso que desejamos: tirar a poesia da gaveta, trazê-la ao corpo vivo da voz, do gesto, do som — levá-la à calçada, ao palco, ao coração de quem ouve.

Sejam bem-vindos. A apresentação vai começar. Deixem que as palavras cantem.

 

Ficha técnica  Vídeo Ficha técnica.mp4

Vídeo de abertura e algumas fotos do evento






O autor do blog sente-se muito honrado por ter sido incluído no evento. Seu poema "Procura-se a poesia"* foi lido por Roberto de Oliveira e Ana Cristina.


Procura-se a poesia



Não há poesia na bomba que explode

Na bomba que extermina

Na bomba que destrói e arrasa

Na bomba que indiscriminadamente aniquila.



Não há poesia na bomba.



Não há poesia na bala

Na bala que trespassa o corpo

No corpo que recebe a bala

No corpo que se contorce em dor.



Não há poesia na bala.



Não há poesia na morte

Na morte que trucida os corpos

Na morte que os violenta

Na morte que os viola.



Não há poesia na morte.



Não me falem de guerras de democratização

Uns olhos de um homem morto

São uns olhos mortos.



Quem defende a guerra que me apresente



Um morto livre

Um morto democrata

Um morto com causas

Um morto com religião.



Não há poesia na guerra.

Há morte, crueldade, caos, brutalidade

Extermínio, sangue, vazio e destruição...



E o silêncio.

A ausência.



José de Sousa Miguel Lopes



*O poema faz parte do livro "Nas sílabas do vento" (pág. 200-201). Curitiba: Editora Appris, 2023. 

  


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