sábado, 5 de julho de 2025

"Amor da palavra, amor do corpo" - António Ramos Rosa


 


Amor da palavra, amor do corpo



A nudez da palavra que te despe.


Que treme, esquiva.


Com os olhos dela te quero ver,


que não te vejo.


Boca na boca através de que boca


posso eu abrir-te e ver-te?


É meu receio que escreve e não o gosto


do sol de ver-te?


Todo o espaço dou ao espelho vivo


e do vazio te escuto.


Silêncio de vertigem, pausa, côncavo


de onde nasces, morres, brilhas, branca?


És palavra ou és corpo unido em nada?


É de mim que nasces ou do mundo solta?


Amorosa confusão, te perco e te acho,


à beira de nasceres tua boca toco


e o beijo é já perder-te.




António Ramos Rosa


0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP