sexta-feira, 22 de julho de 2016

"As duas mulheres" - Nuno Júdice


As duas mulheres

Rezai por ela, a mulher que trocou
as lágrimas por palavras: e ainda
escreve, num caderno de noite e de
névoa, o poema sem rima nem versos.
E rezai por essa outra, ébria de
luz, que fecha os olhos para se
rir, ocultando o rosto nos ombros
do soldado. Nenhuma delas se encon-
trou, em margem alguma; e correm
em direcções contrárias os rios
das suas vidas. No entanto, o choro
de uma tocou a outra, e esta emudece.
«Que tens?», inquieta-se o homem. E
ela empurra-o, de olhos abertos,
enfrentando a luz: «Uma estranha
irmã chamou por mim; e confundiu-se
comigo; e roubou-me o riso dos lábios».


Nuno Júdice

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