terça-feira, 5 de julho de 2011

Poema de Eugénio de Andrade

Eis o homem, eis o seu efémero rosto
feito de milhares de rostos, todos eles
esplendidamente respirando na terra,
nenhum superior ao outro, separados
por mil e uma diferenças, unidos por
mil e uma coisas comuns, semelhantes
e distintos, parecidos todos e contudo
cada um deles único, solitário, desamparado.
É a tal rosto que cada poeta
está religado. A sua rebeldia é em
nome dessa fidelidade. Fidelidade ao
homem e à sua lúcida esperança de
sê-lo inteiramente; fidelidade à terra
onde mergulha as raízes mais fundas;
fidelidade à palavra que no homem é
capaz da verdade última do sangue,
que é também verdade da alma.

Eugénio de Andrade, "Os Afluentes do Silêncio"

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