"Quarzazate (Secreta ironia)" - Adão Cruz
Quarzazate
(Secreta ironia)
As
franjas da memória abrem-se na manhã fria da solidão
como torvelinho de água nas despojadas pedras do tempo.
Eis que nos damos conta de uma longa viagem
a qualquer cidade para lá do horizonte
quando um mar de cal viva queima os sentimentos
no estribo de um velho comboio sem princípio nem fim.
Eis que nos damos conta das lágrimas contidas num mar de cinza
cobrindo a alegria de viver
quando se apaga o sol que brilha entre as mãos.
Eis que no crescer da angústia uma infinda tristeza afoga a razão
entranhando no sangue a sombra espessa da desilusão.
O coração tomba perdido na poeira da cidade
preso à orla do deserto de Ouarzazate como criança sem asas.
Na terra sem trilhos e sem regresso aos olhos
onde se abre o sorriso de todas as manhãs
eis que nos damos conta de não fazermos parte do mundo.
E cai o sofrimento
no profundo silêncio das noites sem nome suspensas das estrelas.
E resta a saudade
ardendo em fogo lento como ramo seco da primeira folha verde.
como torvelinho de água nas despojadas pedras do tempo.
Eis que nos damos conta de uma longa viagem
a qualquer cidade para lá do horizonte
quando um mar de cal viva queima os sentimentos
no estribo de um velho comboio sem princípio nem fim.
Eis que nos damos conta das lágrimas contidas num mar de cinza
cobrindo a alegria de viver
quando se apaga o sol que brilha entre as mãos.
Eis que no crescer da angústia uma infinda tristeza afoga a razão
entranhando no sangue a sombra espessa da desilusão.
O coração tomba perdido na poeira da cidade
preso à orla do deserto de Ouarzazate como criança sem asas.
Na terra sem trilhos e sem regresso aos olhos
onde se abre o sorriso de todas as manhãs
eis que nos damos conta de não fazermos parte do mundo.
E cai o sofrimento
no profundo silêncio das noites sem nome suspensas das estrelas.
E resta a saudade
ardendo em fogo lento como ramo seco da primeira folha verde.
Adão Cruz
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